16 de março de 2009

Exibição de gala? Não! Exibição de Lucho...

assistência: 34.211 espectadores.
árbitros: Cosme Machado (AF Braga), Alfredo Braga e Henrique Parente; Albano Correia.

FC PORTO: Helton; Sapunaru, Rolando, Bruno Alves e Cissokho; Andrés Madrid, Raul Meireles e Lucho «cap.»; Mariano, Lisandro e Rodríguez.
Substituições: Andrés Madrid por Tomás Costa (59 min), Rodríguez por Tarik (79 min) e Lisandro por Farías (79 min).
Não utilizados: Nuno, Stepanov, Rabiola e Ivo Pinto.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

NAVAL: Peiser; Carlitos, Paulão «cap.», Diego Ângelo e Daniel Cruz; Bruno Lazaroni, Godemeche, Alex Hauw e Davide; Marinho e Marcelinho.
Substituições: Daniel Cruz por Baradji (46 min), Alex Hauw por Dudu (46 min) e Davide por Bolívia (72 min).
Não utilizados: Jorge Baptista, Gilmar, Michel Simplício e Real.
Treinador: Ulisses Morais.disciplina: cartão amarelo a Lisandro (29 min) e Dudu (90 min).

marcadores: Mariano (29 min) e Lucho (68 min).

É uma noite especial, esta da Invicta. Sob um céu estrelado, uma lua luminosa e uma temperatura amena, joga-se no Dragão uma partida transcendental. Quem diria, ainda a canícula do Verão convidava a mergulhos em águas tépidas, quando sorteio ditou que o Porto seria o anfitrião dos homens da Figueira, a oito jornadas do fim, que os 3 pontos em disputa valeriam ouro?

Com os encontros até final em contagem decrescente, e com a margem pontual a não ser tão folgada como em anos anteriores, as partidas revestem-se de um carácter imperativamente próximo de uma final. Ao subirem ao palco majestoso do mais belo Estádio nacional, os comandados de Jesualdo sabem de antemão o que o público, esse fiel companheiro de todas as horas, quer. A vitória. O soltar, de forma pujante e alegre, o grito doce do triunfo.

Se o Dragão, ultimamente, não tem sido o bastião inexpugnável habitual, com os azuis e brancos a denotarem sérias e preocupantes carências na finalização, o apoio não tem sido regateado, numa mensagem subliminar de esperança e crença nas capacidades da equipa.

O opositor desta noite foi um dos carrascos do Porto, na competição-mor do futebol nacional, derrotando os portistas na Figueira da Foz, aumentando a crise então vivida, acentuando o sentimento de purga que se vivia, por aquela altura.No lançamento da partida desta noite, os dados que merecem ser realçados são já conhecidos do grande público. O dream team, versão 153 da era Orelhas, baqueou em casa, perante o seu grande amigo vimaranense. O vizinho do outro lado da 2ª circular, ainda numa fase de convalescença depois da monumental tareia aplicada por uma germânicos irascíveis, é agora o detentor do 2º posto da tabela classificativa. Isso implica, tudo devidamente somado, que em caso de vitória azul e branca o fosso aumenta dos actuais 2 pontos de vantagem para uns mais confortáveis 4.

Na véspera de nova paragem na competição, Jesualdo sabia que não podia contar com o pêndulo do meio-campo, Fernando, e com a nova coqueluche do futebol europeu, Hulk, ambos a cumprirem o castigo disciplinar pelos 5 amarelos já vistos. Os seus substitutos esperados são o reforço de Inverno, vindo da cidade dos arcebispos e desejo antigo do técnico portista, Andres Madrid, e Mariano Gonzalez, entrando para o tridente atacante. O aríete, colocado bem junto dos centrais do adversário, era Lisandro, procurando redescobrir o segredo que o transformou, no ano transacto, num letal avançado.

Tinha um desejo secreto, antes do apito inicial do árbitro. Um golo madrugador, que afastasse a ansiedade, estabilizando o batimento cardíaco. E isso quase que acontecia…

O Porto entrou pressionante, rápido nas transições, num futebol efectuado a toda a largura do terreno, com os seus jogadores a movimentarem-se com celeridade nos espaços vazios. Aos 2 minutos, já as gargantas se soltavam em berros de frustração, quando Rodriguez falha clamorosamente a um metro da baliza. Uma oportunidade flagrante, reavivando fantasmas recentes de goleadas desperdiçadas pela inépcia no momento do remate final.

Aos 10, um lançamento magistral de Lucho isolou o compatriota Lisandro. Este, com uma recepção exemplar, faz o que os manuais ensinam numa situação de um-para-um, com o guarda-redes. Bola para um lado, tirando-a do alcance das luvas e passagem estendida, no lado oposto, com a baliza desguarnecida a ficar à mercê. Mas isto é o que ensinam em ambientes teóricos. Na prática, há que levar em consideração uma série de factores aleatórios. Um pedaço de relva ligeiramente mais elevada que os restantes. Um cordão desapertado na chuteira. A sofreguidão no momento do remate. Ou Cosme Machado.

Lisandro não é derrubado por Peiser. Não. Isso seria um eufemismo. O avançado portista é literalmente abalroado, o mais parecido numa situação de jogo com um atropelamento brutal. A saída destemida e extemporânea do guardião figueirense ,derrubando de forma escandalosa o jogador adversário, mereceu uma estranha benevolência arbitral.

A miopia do juiz bracarense não provocou qualquer mossa nos Dragões. Com uma exibição sem mácula, alegre, jogando de forma simples, unindo a certeza do passe à velocidade de execução, o domínio acentuou-se, de forma asfixiante. A equipa funcionava como um harmónio, com os laterais participativos nas jogadas enleantes de ataque. Cissokho, exemplo de disponibilidade física, marcava o ritmo, combinando com Rodriguez, abrindo brechas na defensiva oposta. Lucho assumia-se como o cérebro, cabeça erguida, colocando o esférico, de forma cirúrgica, nos seus companheiros. As oportunidades sucediam-se, o pânico a dominar o conjunto da Naval.

Quando já se desesperava por um golo, merecido face a um caudal ofensivo brutal, El Comandante mostrou que estava nos seus dias. Um passe calibrado de forma perfeita, o couro a colar-se aos pés do companheiro de batalhas habitual, Lisandro, e este, depois de um movimento mágico, a ser derrubado por Paulão, dentro da área de rigor. Derrubado? Voltamos à velha questão dos factores aleatórios. E a Cosme Machado. O argentino tinha ganho a posição. Estava de frente para a baliza, a míseros metros de poder alvejar com sucesso as redes. O toque de Paulão, visível a olho nu na estação espacial americana, foi suficiente para o desequilíbrio do ponta-de-lança. Deve ser esta a impunidade de que fala o presidente encarnado…

Não houve tempo para impropérios e invectivas ao desastrado condutor da partida. Mariano Gonzalez, num remate de raiva, depois de um bailado esteticamente agradável à frente da defensiva navalista, conferiu justiça ao marcador. O golo, tardio, era uma pírrica forma de justiça para quem tanto tinha porfiado.

Faltava um quarto de hora para o intervalo. E deveria ter sido jogado sob um manto de silêncio sepulcral. Tal como as cosmopolitas audiências da ópera, reverentemente caladas, deixando brilhar os intérpretes que os deliciam, o público do Dragão assistiu a 15 minutos de gala. Um reportório imenso, deliciando as bancadas ávidas, com uma exibição conjunta de inegável qualidade. Fiquei fascinado, com destaque para o lance, brilhante, aos 40 minutos, iniciado numa recuperação do lateral-esquerdo portista, passando por uma troca de bolas, ao primeiro toque, culminada numa corrida desenfreada de Rodriguez e do cruzamento deste, mortífero, para Lucho. O falhanço do homem vindo das Pampas não deslustra a beleza inerente ao acto. O intervalo chegou, deixando pairar aquela mistura de êxtase, pelo que se tinha assistido, a frustração, pelo periclitante resultado.

A segunda metade foi uma cópia fiel da primeira. Domínio intenso. Futebol adulto, concentrado, com uma pressão alta digna de registo, numa concentração impar, não permitindo veleidades ao adversário. A pecha, como sempre, radicava numa finalização desastrada, colocando os nervos à flor da pele.Paulão ainda assustou, depois da saída em falso de Helton, na marcação de um canto. Foi também o canto do cisne, para aqueles que almejavam pontuar na Invicta. Mariano, sempre activo, assiste Lucho. O movimento sublime deste, recebendo e disparando, quase sem pestanejar, com o pé direito, sentenciou uma partida avassaladora dos portistas. The End, em letras garrafais, na noite portuense…

Análise final: Respira-se confiança, com os pupilos de Jesualdo a confortarem os seus adeptos, nesta recta final rumo ao desejado tetra. Exibições sólidas, dominadoras, assentes num futebol musculado, com a componente física a merecer elevados elogios. Afastado o espectro dos empates caseiros, a vitória frente à Naval foi convincente, perfeitamente justa, pecado apenas pela escassez dos números envolvidos.

Melhor em campo: É o cabo dos trabalhos. Gostei de tantos. Madrid, no tempo jogado, foi a personificação de um trinco inteligente, privilegiando o fácil em detrimento de lances mais adornados. Sapuranu, concentrado, perdeu definitivamente a tibieza. Raçudo, empenhado, tem suprido com qualidade a ausência de Fucile. Rodriguez continua a viver o seu estado de graça. Fulgurante, dotado de uma velocidade que provoca mossa nos defesas adversários, tem sido um demónio à solta, semeando terror nas hostes contrárias. Impressionante a quantidade de vezes que o uruguaio fintou, centrou e serviu os companheiros mais avançados.

Cissokho, um irmão gémeo do uruguaio, de tez mais negra, voltou a pontuar na gratidão dos indefectíveis adeptos do clube. Subindo inúmeras vezes no terreno, combinando com o seu parceiro de flanco, deixou o cabelo em pé aos figueirenses. Uma pérola, em estado ainda bruto, mas sendo lapidado serenamente pela equipa técnica. Mariano, o protótipo do jogador querido por qualquer técnico, efectuou um trabalho de sapa. Impulsionou o jogo, reactivando o fulgor do lado direito, sendo o primeiro a perceber como se deveria chegar à vitória. À bomba. Saindo do limbo onde viveu a temporada anterior, o argentino tem cumprido na perfeição a aposta regular de que é alvo. Não se contentando em finalizar, serviu Lucho, para este colocar o ponto final na partida.E Lucho, o “man of the match”, voltando a tempos passados, quando a sua classe planava, omnipresente, sobre o relvado. El Comandante foi o timoneiro. Alternou passes curtos com longos, lateralizações com lances em profundidade, remates de fora da área e assistências letais. Marcou o 2º tento, pequena obra de arte, onde os seus atributos ficaram visíveis, tendo colocado, com uma precisão espantosa, a bola nos pés de Lisandro, em duas ocasiões em que viu o colega ser derrubado. Nem o falhanço clamoroso, a passe de Rodriguez, lhe estraga a nota elevada.

Arbitragem: Demasiado mau para ser apenas um acidente de percurso. Na dúvida, optou sempre por decisões contrárias à equipa da casa. Fechou os olhos, rivalizado com Lucilio Baptista, num célebre Sporting-Porto, não a um, mas a dois penaltys. Nítidos. Sem espinhas. Não contente com o feito, admoestou Lisandro, por pretensa simulação, impedindo o jogador portista de defrontar o Guimarães. Quando alguns, no habitual tom tonitruante, camuflam derrotas caseiras com o gasto discurso sobre impunidades no futebol tuga, estas actuações dos juízes de campo apenas provam quão fátuo é o conteúdo de tal prédica. “O melhor é fazer as coisas por outro lado”, como lema de vida de tipos com apêndices auditivos enormes, pode complicar a vida aos portistas, nestas oito jornadas finais. Temos que estar atentos…


1 comentário:

freamunde allez disse...

Parabens, belo blog!

Tambem o meu é um blog azul...mas do SC Freamunde!

saudações freamundenses!

www.freamundeallez.blogspot.com