1 de dezembro de 2007

Harry Potter e a trivela mortífera

O capítulo esquecido no último livro de J.K.Rowlings...

"Havia, naqueles tempos tenebrosos, uma luta bem visível entre as várias facções de feiticeiros. De um lado, os apaniguados de Harry Potter, lutando por um mundo melhor, corajosos paladinos da Justiça, exemplos de coragem num mundo em que o Mal, encarnado por um feiticeiro do lado negro, de bigode farfalhudo e orelhas extensivas, procurava recuperar domínio, de qualquer maneira...

A correlação de forças era claramente prejudicial aos nobres defensores do Bem que, alheios a isso, continuavam a pugnar, altruisticamente. A batalha decisiva aproximava-se. O palco do confronto, repleto de uma turba ululante, era num território distante. Mouralândia. Um local pejado de foras-da-lei, marginais e outros espécimes de pouco recomendável coabitação. Nesse dia, chuvoso, como se o próprio céu temesse o resultado do choque de titãs, o Bem entrou em campo. Postura fidalga, corpo erecto, cabeça levantada, orgulhosa, olhando o inimigo nos olhos. Play like kings, play like gods, disse-lhes o sábio que os comandava, de olhar sereno. Não seria necessário dizer mais nada. Enverganto os mantos sagrados, com as cores da Irmandade do Dragão, eles entraram convictos que aqueles 90 minutos não eram apenas outros meros avanços do tempo. Jogava-se a honra. A glória. A eterna luta entre o Bem e o Mal.

Poderosos nas suas magias, confiantes nos seus encantamentos, lutaram imbuídos de uma fé, de uma mística, nascida na criação dos Tempos, trazida até aos dias de hoje por ensinamentos ancestrais. No meio deles, algo franzino, de tez morena, pontificava a grande esperança da Nação do Dragão. Harry Potter, montado numa vassoura supersónica, sabia o segredo para, de uma vez por todas, acabar com as investidas do Mal. Apanhando as forças das Trevas desprevenidas, Harry Potter lançou o seu feitiço mais mortífero. Destruidor. A trivela assassina. Sussurada pelos veteranos à volta das fogueiras, era temida por uns, reverenciada por outros. Se executada na perfeição, nenhum inimigo, por mais poderoso que fosse, lhe poderia fazer frente. E, naquela noite chuvosa, com o bréu do céu a escurecer ainda mais as feições embrutecidas da turba, a trivela foi executada com a máxima perfeição. Cirurgicamente. As Forças das Trevas, derrotadas sem apelo, deixaram atrás de si os despojos de mais uma batalha. Desolados, derrotados, abatidos. O lema da Nação do Dragão fez-se ouvir acima da intempérie, cantada em uníssono, a plenos pulmões, por bravos guerreiros. Play like kings, play like gods."

Desculpar-me-á o leitor mais desprevenido este devaneio, mas ando imerso no universo do mais famoso feiticeiro de todos os tempos.Agora, falando de futebol, que é isso que interessa:

FOMOS MAGNÍFICOS!

Grande primeira parte do Porto [o Bruno já tinha alertado, no artigo anterior, para estes momentos de magia], com o total e absoluto domínio do jogo, controlando os andamentos, empurrando o seu nervoso adversário para o seu reduto, parecendo sempre que o golo estava eminente. Ninguém diria, com o início periclitante, logo após o silvo emitido pelo árbitro para a abertura das hostilidades. Desatenção azul e branca e Nuno Gomes, com menos de um minuto jogado, a aparecer na cara de Helton. Também aí se viu que este Porto estava diferente. Pedro Emanuel, o "iron man", estava de volta. E bem. Foi o canto do cisne encarnado. Não mais o guarda-redes portista foi importunado, numa demonstração de classe da turma de Jesualdo Ferreira, injustamente premiada apenas com um golo.

E que golo. Segundos antes, Lisandro fez aquilo que raramente faz. Falhou um lance de golo quase inacreditável. Desesperavam ainda os adeptos portistas e já Quaresma, desembaraçando-se com enorme facilidade de David Luiz [a ex-next big thing europeia], rematava como ele mais gosta: de trivela. Momento alto na Luz!

A segunda parte iniciou-se quase a papel químico da primeira metade. Enorme desatenção de Bruno Alves, permitindo que Nuno Gomes fuzilasse Helton, com este a demonstrar que se encontrava nas suas noites. A esperada reacção do Benfica foi facilitada pelas saídas prematuras, e quase consecutivas, dos extremos portistas. A contas com mazelas, Tarik e Quaresma abandonaram o palco que, anos atrás, Artur Jorge apelidou de Circo. O domínio do jogo, apesar de pendendo para a equipa da casa, era apenas fruto do consentimento táctico azul e branco, espreitando sempre a possiblidade de novo golo.

Esteve perto, com o desguarnecimento do último reduto encarnado, mas as investidas dos atletas de Dragão ao peito, apesar de semearem o pânico, não surtiram o efeito desejado. Até final, pese um ou outro sobressalto, o resultado pareceu sempre intocável, com a imensa falange de adeptos portistas a brindarem os minutos finais com "olés", simbolizando as pazes com a turma de Jesualdo, depois da humilhação de Anfield.

C'est fini! Acredito que, neste momento, o País se assemelhe a um balão que perde gás, com o ânimo e euforia registado durante a semana a esvair-se rapidamente. Na crista da imprensa, fomos levados a crer que, este Benfica, o "melhor dos últimos 10 anos", depois do empate com o Milão, era capaz de "bater qualquer adversário". A euforia, alimentada por rancorosos artigos de opinião, rapidamente grassou aos falhos de QI, capazes de branquear que era o Porto o líder isolado. Apesar dos "apenas 4 pontos que separam as equipas" e dos "o Porto ainda se pode apurar na Champions", é nestes momentos que a equipa raramente falha. Hoje foi como sempre. Não se falhou. E calou muitas bocas.

ps: Miguel Prates descobriu, ao intervalo, o paliativo que custava a sair. Perante tamanha diferença de classe, o locutor da Sporttv debitou a estupidez habitual: "é preciso não esquecer que o Benfica joga com a mesma equipa, enquanto o Porto tem quatro atletas totalmente frescos." Nem La Pallisse faria melhor.

ps2: Provavelmente já estará a ser cozinhado, para aqueles inefáveis programas de análise, tão do agrado dos canais televisivos, o caso da semana. A quantidade de repetições, quase ad nauseum, da queda teatral de Di Maria na área portista, goleou o penalty sonegado sobre Lisandro, logo aos 11' de jogo. Curiosamente, ou talvez não, o lance faltoso, prejudicial ao Porto, não teve a mesma mediatização.

ps3: Foi impressão minha, ou Lucho andou com debilidades físicas a segunda metade toda?

5 comentários:

Bruno Pinto disse...

Paulo, estou em êxtase! Grande primeira parte do FC Porto, segunda parte menos conseguida, mas era o esperado. Jogámos fora e com 1 - 0, eram sete pontos de avanço, o Benfica é que tinha de correr atrás. Diferença de classe absolutamente abissal. pelas oportunidades que criámos, poderáimos ter espetado, à vontade, 3 batatas!! Penalty escandaloso de David Luíz sobre Lisandro, é inacreditável como Jorge Sousa viu mas não assinalou. Quaresma magnífico! Parabéns Jesualdo, parabéns FC Porto. Quem é a melhor equipa portuguesa?!

Abraço.

Anónimo disse...

Alguem no passado disse qualquer coisa do género:«são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha». Podemos plagiar e começar a dizer «são 11 contra 11 e no fim ganha o Porto»

Sérgio de Oliveira disse...

Paulo :

Palpite...CONFIRMADO !

O PORTO (quando não pode falhar) GERALMENTE NÃO FALHA !

Anónimo disse...

Este jogo foi uma mentira... então a equipa que 'vulgarizou' o campeão europeu. lol e k ainda tem ao seu dispor um árbitro k consegue 'não ver' a scandalosa gp sobre o Lisandro perde no seu próprio galinheiro com uma equipa de bairro!!! Tá-se mm a ver k algo esta errado. Será da fruta? Ou será, simplesmente, que foram atropelados pela unica equipa portuguesa que SABE JOGAR FUTEBOL!!! SOMOS NÓS, SOMOS NÓS, OS CAMPEÕES DE PORTUGAL SOMOS NÓS!!! FCPORTO4EVER!

Anónimo disse...

Bom jogo do Porto à Porto.

Vitória justissima.
Dominamos practicamente todo o encontro. Grande atitude ou melhor, atitude à Porto.

Lisandro em grande. Também gostei muito de Fucile, Lucho (enquanto durou) e do nosso capitão.

Os comentários na bancada, rua e no metro não deixam duvidas a ninguém; o Porto foi superior em todos os aspectos do jogo.

Nota negativa, como já é expectável, para Postiga e Mariano.