22 de outubro de 2008

Como se diz f**a-**, em ucraniano?


21 de Outubro de 2008
UEFA Champions League 2008/2009 (Grupo G – 3ª jornada)
Estádio do Dragão, no Porto
assistência: 32.209 espectadores
árbitros: Terje Hauge (Noruega), Jan Petter Randen e Kim Thomas Haglund; Kjetil Saelen.

FC Porto: Nuno; Sapunaru, Rolando, Bruno Alves e Lino; Lucho «cap», Fernando e Raul Meireles; Mariano, Lisandro e Rodríguez.
Substituições: Fernando por Hulk (46m), Rodríguez por Sektioui (62m) e Mariano por Tomaz Costa (67m).
Não utilizados: Ventura, Pedro Emanuel, Guarín e Farias.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

Dynamo Kyiv: Bogush; Betão, Kiakhate, Mikhalik e Nesmachniy «cap»; Vukojevic e El Kaddouri; Ghioane, Aliyev e Ninkovic; Bangoura.
Substituições: Bangoura por Milevskiy (46m), Ghioane por Eremenko (60m) e Ninkovic por Asatiani (82m).
Não utilizados: Shovkovskiy, Shatskikh, Romanchuk e Zozulya.
Treinador: Yuri Semin.

Disciplina: cartão amarelo a Nesmachniy (32m) e Rolando (65m).
Golos: Aliyev (27m).

É sempre um dia especial. O regresso da prova de elite. Com tudo a que temos direito. A ansiedade crescente. A multidão que se acotovela, na ânsia de entrada no majestoso recinto. O hino que arrepia, na sua lembrança de campanhas épicas. A magia que se solta. É noite de Campeões. Nada mais se lhe compara, no panorama futebolístico actual.

Não será, no entanto, um jogo mediático. Daqueles que movimentam jornalistas em magotes histéricos, com máquinas fotográficas a disparar em cada segundo. O opositor, apesar de respeitado, não é um dos “tubarões” europeus.

Equipa com historial de sucesso, o Dínamo de Kiev faz jus ao estereótipo das gentes de leste, no seu futebol. Frios. Cerebrais. Implacáveis. Mortíferos. Colectivamente fortes, desenvolvem um futebol feito de passes certeiros, movimentações dinâmicas. Com enorme coesão defensiva.Mas será, por certo, um jogo vibrante. Alegre. Táctico. Feito de jogadas de envolvimento, remates inesperados ou cruzamentos milimétricos. Com emoção. Com impropérios intraduzíveis. Gestos de exasperação. E, esperemos, com celebração. Muita. Porque nada melhor para celebrar o regresso à Europa do que uma vitória. Com espectáculo.

Na antevisão da partida e no tom professoral que o caracteriza, Jesualdo abdicou do suspense. Joga Nuno. Helton out. Joga Lino. Fucile de fora. De Benitez, nem se fala, com o trucidado defesa-esquerdo em Londres a deixar de ser opção. Quanto ao resto, nada de novo, deixando aos suspeitos do costume a obrigatoriedade do controlo da partida e a responsabilidade de alvejar as redes adversárias. Fernando. Lucho. Meireles. Tomas Costa. Rodriguez. Lisandro.

Tudo imutável. Tudo? Nah! Tomas Costa, que se vinha afirmando como pedra basilar no meio-campo, reforçando defensivamente as tibiezas de Sapunaru, dando alento à ala direita na procura do golo, não apareceu na constituição inicial da equipa. Mistérios…

Com a chuva a marcar o ritmo, foi um Porto acutilante aquele que entrou no bem tratado relvado do Dragão. Disposto a tomar conta do jogo, procurando jogar em velocidade, com a bola a ser lançada amiúde para os flancos. Rapidamente se percebeu que a equipa, pela dinâmica que imprimia, mancava. Visivelmente. Era o flanco esquerdo que ganhava em protagonismo, com Lino a denotar a sua propensão ofensiva, aparecendo bastas vezes em posições mais avançadas, ajudando Rodriguez. O flanco direito vivia refém de receios espúrios, com a banalidade de Mariano a aliar-se às dúvidas existenciais do lateral vindo da Roménia.

O domínio, visível, nunca foi suficiente para empurrar os ucranianos para uma defesa porfiada. Equipa com excelente técnica, capaz de gerir na perfeição as transições, foram aguentando golpe atrás de golpe, nunca descurando o contra-ataque, feito essencialmente por intermédio de Bangoura, pleno de força e provocando arritmias constantes a Rolando.

Num jogo agradável de seguir, Mariano procurava justificar, mais uma vez, a sua titularidade, mostrando-se agradavelmente activo. Contudo, o primeiro sinal de golo eminente surgiu no lado oposto. Uma incursão de Lisandro, com os predicados do costume, deixa a bola para Lucho, já dentro da pequena área. A saída desesperada do guarda-redes do Dínamo constituiu a salvação dos ucranianos, desviando o remate do argentino para o poste. Nova manifestação do destino [com esta, quantas é que já vão, em alturas sempre cruciais?], impedindo que os azuis-e-brancos inaugurassem o marcador. Era o sinal mais portista, com Lucho a ser um dos mais inconformados, aparecendo sempre em zonas perigosas.

Pressentia-se o golo. E ele apareceu. Mas para o adversário. Livre para o Dínamo e Aliyev a enviar uma bomba para Nuno. O remate, forte e repleto de trajectórias diferentes, era mesmo assim defensável. Isso mesmo. Defensável. Golpe tremendo nas aspirações, legítimas, à vitória, num golo algo fortuito.O Porto, aparentemente, não sentiu os efeitos colaterais de se encontrar em desvantagem. Lisandro desperdiça o ensejo de empatar, numa fuga pela esquerda. Até ao intervalo, só se viu Rodriguez. A cruzar. A rematar. Sempre impetuoso. Galvanizando companheiros. E, quando o apito do árbitro parecia uma realidade imutável, novo “bruáaaa” de decepção. Cruzamento de Cebola, com a dupla argentina – Lisandro e Lucho – a falhar por milímetros. O triste fado luso acompanhava a equipa para o retemperar de forças.

O intervalo foi bom conselheiro para o treinador portista. Desfez-se dos espartilhos conservadores, mandou às urtigas a tradicional cautela e fez pela vida. Sacrificou Fernando, demasiado apagado, e meteu no jogo a electricidade de Hulk. O Porto tomou de assalto o último reduto do opositor. Com Meireles a desempenhar, e bem, a função de pivot defensivo, conseguindo efectuar na perfeição a transição defesa-ataque, o Porto foi mais equipa, encostando finalmente o oponente às cordas.

Vendo que a equipa, apesar de voluntariosa, estava longe de conseguir ser brilhante, Jesualdo opta por nova e necessária mexida. Tarik, o supersónico extremo, estava prestes a iniciar nova aventura, depois do calvário da lesão. Entendia-se a substituição. O Dínamo, com a atitude defensiva cada vez mais patente, era mais permeável nos flancos. Tornava-se necessário alguém capaz de dinamizar a posse de bola, levando-o até à linha de fundo.

Surpreendentemente, o marroquino entra para o lugar de Benitez. Longe da inspiração que se esperava do uruguaio, mesmo assim é questionável a sua troca, deixando em campo a banalidade de Mariano. Por pouco tempo. Vendo que com Tarik a equipa ficou dotada de maior velocidade e imprevisibilidade, o treinador azul-e-branco opta por nova substituição. Sai Mariano, entra Tomas Costa. De pouco serviu.

O futebol portista, feito de coração mas com cada vez menor discernimento, foi perdendo clarividência. Os sinais de desnorte avolumavam-se, perante a impassibilidade de um adversário que, justiça seja feita, nunca viveu momentos de verdadeiro desespero. Hulk procurava remar contra a maré, enfermando de males ainda não corrigidos. Com uma capacidade de choque acima da média, um remate poderoso e uma capacidade técnica invejável, o brasileiro consegue sempre agitar as águas, mesmo quando teima em ser de um individualismo exasperante. Um diamante com evidentes qualidades para delapidar.

Sem uma verdadeira ocasião de golo, na 2ª parte, o conformismo foi tomando conta da equipa, pese a abnegação do costume. O espectro da derrota, depois de 3 profícuos anos, abateu-se clamorosamente sobre a Invicta. E a noite que se esperava de festa e celebração deu lugar ao mais profundo breu. Nuvens bem escuras que pendem sobre a suposta qualidade de uma equipa que teima em defraudar expectativas…

Notas finais: 3 míseros pontos, 3º lugar no grupo, com duas deslocações a redutos difíceis para realizar, na 2ª volta. Com um encontro caseiro a ser anfitrião dessa verdadeira máquina demolidora de jogar futebol, o Arsenal, que futuro para este Porto bucólico, melancólico e tristonho? Sinceramente, nesta fase, apenas e só o desejo de que se consiga o desiderato mínimo: o apuramento para a UEFA. Aliás, vistas bem as coisas, a única coisa que o clube teria a ganhar, com uma eventual e improvável qualificação para os oitavos, seria o chorudo bónus financeiro. Porque, sejamos sinceros, esta equipa é uma pálida imagem de outras que granjearam respeito na Europa. E, quando assim é, nada melhor do que alimentar as expectativas dos adeptos, jogando num escalão com uma grau de dificuldade bem menor.

Melhor do FC Porto: Raul Meireles. Primeira parte esforçada, segunda parte a demonstrar o quão equivocado estava Jesualdo, ao conceder o beneplácito da titularidade a Fernando. Meireles dinamizou por completo o meio-campo portista. Recuperou bolas, efectuou passes, manteve a clarividência necessária no desenvolvimento das jogadas de ataque, servindo os interesses do colectivo.

ps - Sempre me mostrei convicto nas minhas opiniões. E nunca, felizmente, pedi a cabeça de ninguém. Detesto solenemente os linchamentos mediáticos. Defendi, neste espaço, em muitos comentários, a manutenção de Helton na baliza. Felizmente que Jesualdo não me fez a vontade. Imagino o que se diria do brasileiro se fosse ele o titular, sofrendo um golo num livre a mais de 30 metros da baliza. Ficou provado que o brasileiro não pode, em circunstância alguma, servir de bode expiatória a culpas colectivas.

ps2: Texto e imagem originalmente publicados no Bibo Porto.

5 comentários:

Anónimo disse...

O Lucho se não jogar bem o Porto também não jogo. Lucho esteve muito lento, errou muitos passes e isso notou-se na equipa. Qauntos aos restantes gostei muito do Raul Meireles e do Lisandro. O Tomás Costa deveria ter entrado mais cedo e o Mariano teve melhor que o costume. Alguém viu o Rodriguez ontem no dragão???

INTROITO disse...

É necessário não desfalecer e não deixar que passe para a Equipa o sentimento de frustração que se vai apreciando em várias vertentes Portistas e numa certa "imprensa" catrastrofista...
Teremos de confiar que "até ao lavar dos cestos é vindima..."

David Caetano disse...

A equipa está a actuar à imagem do seu treinador. Já há muito defendo que Jesualdo não é um treinador à altura das exigências de uma equipa como é o FCPorto.

Quanto aos jogadores, é preciso ver que, ao contrário do que sucedeu na época passada, ontem o Porto apresentou (sem contar com o Nuno) 5 caras novas na equipa inicial e depois mais 2 nos jogadores que entraram nas substuições.

Se têm ou não qualidade, isso será outra história, mas também não foram eles que pediram para vir para o FCPorto nem foram eles quem estabeleceu o seu preço.

Quanto a Nuno continuo a defender que no momento actual parece-me o guarda-redes em melhor forma e também não me parece que deva ser rotulado de responsável na derrota de ontem. Sofreu um golo esquisito, é certo, mas num remate fortíssimo e no qual a bola descreveu uma trajectória estranha. Para mim mantém-se na baliza, até Helton recuperar o lugar com trabalho. Ou será que o guarda-redes não precisa de sentir que tem concorrência?

Para finalizar, os assobios... Eu pergunto, será que o facto de pagarem bilhete para o jogo é justificação suficiente para os adeptos transformarem o Estádio do Dragão num campo favorável ao adversário quando deveria ser totalmente o oposto? Parece-me que há gente mal habituada com os sucessos do FCPorto e que se deixaram amolecer no conforto de uma relação unidireccional: a equipa é que puxa pelos adeptos quando alturas há em que o oposto também deveria acontecer.

Como disse ontem El Comandante: "Era suposto puxarmos todos para o mesmo lado".

Venha o próximo. Eu acredito que o FCPorto ganha em Kiev.

http://zedobone.blogspot.com

Sérgio de Oliveira disse...

Paulo :

Quase na totalidade de acordo contigo.

Apuramento para a UEFA ?

Mas, o que é isso ?
Achas que estes jogadores não dão mais ?
Eu acredito que vão dar !

Tiago Araújo disse...

pois