16 de agosto de 2008

Deja Vu

16 de Agosto de 2008
Supertaça Cândido de Oliveira 2008
Estádio do Algarve, em Faro

árbitros: Carlos Xistra (AF Castelo Branco), José Braga e Mário Dionísio; André Gralha.

FC Porto: Helton; Sapunaru, Bruno Alves, Pedro Emanuel «cap.» e Benítez; Guarin (Candeias 70m), Raul Meireles e Lucho; Lisandro, Farias (Hulk 56m) e Rodriguez.
não utilizados: Nuno, Fucile, Rolando, Tomás Costa e Fernando.
treinador: Jesualdo Ferreira.

Sporting: Rui Patrício; Abel, Anderson Polga, Tonel e Caneira; João Moutinho «cap.», Rochemback, Romagnoli (Miguel Veloso 67m) e Izmailov; Yannick (Pereirinha 90m) e Derlei (Hélder Postiga 82m).
não utilizados: Tiago, Adrien, Grimi e Tiuí.
treinador: Paulo Bento.disciplina: cartão amarelo para Anderson Polga (10 min), Benítez (29 min), Caneira (71 min), Lucho (90 min), Miguel Veloso (90 min) e Rodriguez (90 min).

golos: Yannick (45 e 58 min).

E pronto. Começou a época, oficialmente. No tradicional jogo inaugural das “festividades”, a Supertaça foi passear para territórios sulistas, na turística zona algarvia. Aproveitando o “dolce faire niente” de grande parte da população portuguesa, os responsáveis federativos seguiram a fórmula da Taça da Liga, enchendo de um público entusiasta o recinto criado para o Euro-2004.

O Porto tinha contas a ajustar. Não era segredo para ninguém. O Sporting tornou-se, depois das conquistas da última Supertaça e da Taça de Portugal, uma espinha encravada na garganta. Sem sentimentos de vingança, que esses ficam a cargo de clubes de menor igualha, o que importava na noite de Sábado era só uma coisa. Vencer. E trazer a Taça.

A pré-temporada prometia. Um Porto em crescendo, com reforços de qualidade, mostrando já alguns dos predicados que tornaram os azuis e brancos a equipa mais receada deste cantinho à beira mar plantado. Do outro lado, quase tudo permanecia imutável. Até mesmo o ridículo risco ao meio do treinador leonino. Um Sporting mais maduro, com um maior número de opções, depois das entradas do polivalente Caneira e do regressado Rochemback, e da deserção de Postiga, à procura da felicidade perdida.

Um combate de titãs, entre as duas mais fortes equipas lusas, as únicas a merecer o privilégio de disputar a Liga dos Campeões.

No Porto apenas uma incógnita, depois do ensaio com a Lazio. Com o lugar do renegado Assunção entregue ao colombiano Guarín, e com o lado esquerdo da defesa a ficar com o sotaque das pampas, com Benitez a vencer a corrida pela titularidade, a interrogação que grassava na mente de todos era apenas uma. 4-3-3, apesar da gastroenterite de Mariano, ou o mais cauteloso 4-4-2? Se dependesse da minha opinião, o 4-3-3 é o esquema de eleição. Um esquema táctico já incorporado pela equipa, que parece uma máquina bem oleada, deslizando pelo relvado com movimentos fluidos, sincronizados e próximos da perfeição.

Por isso, usei os meus dotes de telepatia. Durante 5 minutos, sentado no sofá, repeti mentalmente “4-3-3, 4-3-3, 4-3-3”.Respirei aliviado, ao ver as camisolas azuis e brancas subirem ao relvado. O Porto não tinha hipotecado a sua identidade própria. Rodriguez, futebol feito de explosão e raça, encostado à esquerda. Lisandro, temível fazedor de golos, descaído para o flanco oposto, deixando lá na frente o compatriota Farías, à procura da “Tecla” certa para que a sinfonia soe perfeita.

O árbitro apitou. As hostilidades estavam abertas. O espectáculo começou…

E começou ligado à corrente, com cada lance disputado em esforço, como se dele dependesse a salvação do Mundo. Um futebol eléctrico, jogado a 100 à hora, com os espaços vazios a serem uma miragem, num embate de contendores cujo fragor se fazia ouvir à distância.Os 15 minutos iniciais mostraram, novamente, que o losango leonino é uma estratégia bem oleada, criando enormes dificuldades ao trio adversário. Meireles, Guarin e Lucho viviam em permanente sobressalto, com visíveis constrangimentos em controlarem aquela zona nevrálgica da batalha. Minutos agrestes, belicosos, com os defesas portistas a mostrarem alguma insegurança perante a mobilidade e velocidade de Derlei e Djálo.

No meio-campo começava a impor-se Rochemback, qual general movimentando as suas tropas de forma estratégica. Ao futebol mais fluído do Sporting o Porto contrapunha uma dose extra de trabalho, com Lucho a assumir-se a voz de comando. Com direito a guarda-de-honra, El Comandante via Izmailov segui-lo em qualquer centímetro de terreno, qual sombra do argentino.Reduzido à combatividade de Rodriguez e Lisandro, o Porto não existiu ofensivamente, na primeira metade. Abúlico, Farías movimentava-se na frente de ataque de forma descoordenada, lenta e pouco eficaz, sendo uma presa fácil para o último reduto da equipa de Paulo Bento.Sem paragens no ritmo frenético, mercê da qualidade de passe de Lucho, o equilíbrio chegou ao Algarve. Atrasado, é certo, mas a tempo de permitir algum desafogo no colete-de-forças montado de forma subtil para emperrar a máquina de Jesualdo. A felicidade, no futebol, pode ser medida, ao contrário da vida real. Centímetros. Muitas vezes é isso que faz a diferença entre a euforia da vitória ou a frustração da derrota. No ano passado fomos abatidos por uma bomba de sotaque russo. Este ano, em zona similar do terreno, Lucho tentou a sua sorte. A bola, como se teleguiada pelo desejo de milhões de fiéis apaniguados, levava o selo de golo. Numa cruel partida do destino, esbarrou caprichosamente no poste, cerceando os intentos de comemoração que se formavam nas gargantas…

Destino que se encarregou, mesmo à beira do intervalo, de pregar nova e contundente partida. Ataque rápido verde-e-branco, um ressalto a retirar Bruno Alves do caminho do esférico, e Djálo a facturar, para gáudio da turba nas bancadas.

O intervalo, interregno de tempo propício à meditação, foi um convite ao desespero e exasperação. Pouco Porto, muito pouco, para uma pré-temporada que tinha prometido tanto. Uma defesa insegura, com Sapunaru a ser uma presa fácil para a velocidade e técnica de Izmailov, Benitez pouco afoito no apoio ao ataque e erros pouco habituais na marcação dos centrais. Suspirava-se por mais, mas Jesualdo optou pelo conservadorismo de sempre, sem proceder a qualquer alteração no onze inicial.Os erros da 1ª parte transformaram-se em verdadeiros disparates, na segunda metade. Bruno Alves oferece o 2º golo a Djaló, que declina a oferta. Lucho procura, mais uma vez, remar contra a maré. Numa prodigiosa assistência, coloca a bola açucarada nos pés de Lisandro. O empate, à distância de um mísero pontapé, esbarra nas mãos de Rui Patrício. E depois, como se a lembrança de Bosingwa a cada minuto que passava não fosse já castigo suficiente, o lateral romeno que o substituiu resolve acabar com o jogo. Literalmente. Numa caldeirada de erros monumentais, travestiu-se de Pai Natal numa prenda antecipada, liquidando as aspirações azuis e brancas.

E a partir daí um monumental deserto de ideais. Individualismo à solta, a emoção a toldar o normal racionalismo de uma equipa crente nas suas potencialidades e muita garra. Foi pouco.Jesualdo tentou alterar o rumo dos acontecimentos, metendo Hulk e Candeias, mas foi tarde. Demasiado tarde. O Porto jogava não apenas contra um opositor de qualidade, mas também contra os Deuses da Fortuna, indispostos com o emblema do Dragão.

Aos 72 minutos, a derradeira oportunidade de recuperação. Bela incursão de Candeias, sempre muito activo e influente, com Caneira a cometer grande penalidade. Suprema ironia. O melhor jogador do Porto no pior momento da equipa. Lucho disparou, Rui Patrício defendeu. Acabou ali, na ponta das luvas do imberbe guarda-redes, qualquer veleidade de vitória. Déja-vu. O Professor levou mais uma lição de táctica. Um justo vencedor, num pesadelo que ameaça tornar-se crónico…

Arbitragem: os receios manifestados antes do início do encontro revelaram-se infundados. Irrepreensível tecnicamente, Xistra conduziu o jogo sem grandes protagonismos, concedendo alguma permissividade inicial no capítulo disciplinar, mas sabendo aplacar os ânimos mais belicosos com as admoestações da praxe. Bem no lance da grande penalidade, apagou os poucos fogos gerados pela frustração da derrota.

Melhor do Porto: Lucho. Penalizado pelo azar, foi o único a jogar perto do seu nível. Generoso na entrega, foi clarividente na procura dos espaços para lançar o contra-ataque. Conduziu as investidas atacantes, nunca se escondendo da partida. Poderia ter sido decisivo. Um pontapé magnífico esbarrou no poste, na 1ª metade. Falhou a hipótese de redenção, ao permitir a defesa na grande penalidade. Mesmo assim, claramente uns furos acima dos seus companheiros…

ps: Para a próxima, deixo os meus dotes de telepatia de lado. Com a 3ª final perdida, no espaço de 1 ano, para as mesmas cores, mais vale esquecermos o 4-3-3 ou o 4-4-2. Para a próxima, tentemos o velhinho “tudo ao molho…”

ps: Logo do jogo retirado do Portistas de Bancada

10 comentários:

Anónimo disse...

LOL. Até quero ver o que vais escrever, depois da banhada que levaram.

Paulo Pereira disse...

Leão da Estrela,

Provavelmente escreverei o que me vai na alma e que todos viram no terreno de jogo. Ao contrário do que possas pensar, não sou daqueles adeptos que se esconde na hora da derrota, por mais inapelável que ela seja...

Considero que é nestes momentos que se vê [e sente] a verdadeira alma clubista. Pesaroso, é certo, mas sempre indefectível na defesa do emblema que aprendi a amar...

E, apesar da subjectividade da opinião, banhada não será propriamente o termo que designa o que se passou em jogo...

Mesmo assim, pese não fazer do fair-play uma forma de vida, considero que o Sporting foi um justo vencedor. E isso vale o que vale...

Anónimo disse...

Antes de mais os meus parabens ao SCP, um justissimo vencedor. Em relação ao FCP, repetir exactamente a mesma coisa vezes e vezes sem fim esperando resultados diferentes não me parace uma actitude muito inteligênte. E com a agravante de não se poder comparar Paulo assunção, Bosingwa, e Quaresma, a Guarin, Sapunaru, e Rodrigues. Mas os sócios do Porto sabem melhor do que eu as qualidades do seu treinador. Saudações benfiquistas.

Paulo Pereira disse...

dANIEL,

É normal, em qualquer equipa que sente que a derrota caminha a passos largos para os penalizar, deixar que a razão seja toldada pela emoção. Daí que o Porto tenha entrado, na 2ª metade e após o 2º golo do SCP, num futebol estereotipado, pouco clarividente e objectivo...

Não me parece é que, apenas por este jogo, se tenham que começar com as habituais comparações de jogadores. Sapunaru tinha, até ao momento, deixado boas indicações. Hoje teve um jogo claramente infeliz. Não é, logicamente, um Bosingwa. Guarin já se sabia, pelo que se tinha visto, que não é um trinco, na verdadeira acepção da palavra. Gosta de terrenos mais adiantados, tendo uma vocação ofensiva que o leva a desguarnecer aquela zona nevrálgica do terreno...

Não me parece, no entanto, que tenha sido por aí que o Porto perdeu. Mais uma vez Jesualdo não encontrou o antídoto para vencer a resistência do losango leonino. Não foi à 3ª, quem sabe se será à 4ª? Esperemos que sim:)

Anónimo disse...

enfim..mais do mesmo!

como sempre jesualdo perde 90% dos jogos grandes (nacionais e europeus) que faz..e agora sem quaresma para nos salvar ainda vai ser pior!

ele perde a todos os niveis com paulo bento que tambem é um treinador mediocre! entao tacticamente...que vergonha!

enfim..nao sei como ainda há gente que apoia este treinador! ou quem é por o mariano ser jogador para o FCp..fez mais o puto candeias nestes 30min que o Mariano a epoca passada toda lol

enfim..vai ser bonito este inicio de epoca vai..

Paulo Pereira disse...

Freddy,

Mariano pode parecer trapalhão, mas tem qualidade, como o demonstra a recente convocatória para a Selecção da Argentina.

Atenção que não sou defensor do jogador, mas tacticamente cumpre com o que lhe é pedido, fechando bem o flanco direito. E hoje viu-se o que isso poderia valer...

dragao vila pouca disse...

A crónica está boa, mas quando se joga mal não se merece a sorte do jogo. Tudo bem que houveram erros individuais, mas já nessa altura era notória a nossa incapacidade de pegar no jogo e sermos melhores. É também impressionante, que o Jesualdo -para mim a partir de agora e até prova em contrário, o Professor perde Taças - ainda não tenha arranjado maneira de travar o losango leonino. O P.Bento nem precisa - o que é lamentável - de inovar para ganhar ao Porto de Jesualdo.
Mais, como é possível o Farías não ter saído logo ao intervalo? Como é possível Guarín ser trinco -será que todos já vimos isso menos o Jesualdo- e continuar a errar sempre, quando bastava passar o Raúl para o lugar do colombiano e as coisa melhoravam logo?
Benítez nunca vai ser uma ajuda para Rodríguez.
Sapunaru esteve muito mal, mas esperemos que tenha sido só um jogo.
Estou preocupado e apreensivo.Espero que esta semana seja definitivamente clarificadora,sobre saídas,possíveis entradas e Quaresma.
Finalmente: não consigo imaginar este Porto sem Lucho.
Apenas mais um ponto em relação ao meu comentário no BiBÓ-PorTo.
Meu caro Paulo não há 4x3x3 que resista com dois laterais que não passam do meio-campo.
Um abraço

Anónimo disse...

Parabens pelo blog, apesar de não ser o do meu clube, está muito bom. Abraço ;)

dragao vila pouca disse...

Quem for a favor da Reginalização pode passar no meu blog ou no Renovar o Porto e assinar a petição.
Um abraço

Dragaoatento disse...

Olá!
Era para não comentar,porem e dado que ao passar por aqui depararam-se-me dois comentários tendenciosos,já que tive de suportar a tendencia dos outros,dum tal de leão da estrela,e, dum tal de Daniel...
Então cá vai um resumo da minha tendência:
Meu caro Paulo,por natureza não sou tão contemporizador como tu.
Também não acho que o Sporting tivesse jogado por aí alem.
Aceito que defenderam muito,e bem,não dando hipóteses aos nossos avançados de brilharem.E só!
Depois tiveram um Xistra...!Porque será que este não viu a falta cometida pelo Abel sobre o Lisandro,que o deixou prostado no chão,antes da jogada do primeiro golo do Sporting?!

(como eu vi o jogo)

A prestação da equipa
Não sou daqueles que emitem críticas destrutivas a qualquer preço. Mas que custou muito a engolir mais esta derrota da Supertaça, custou! Tenho para mim, que com um pouco mais de humildade, cautela e atitude da parte da equipa do FC Porto, se calhar, não seria tão fácil ao Sporting cantar vitória. Claro que há que ter em conta DIVERSAS CONDICIONANTES. A equipa sofreu a perda de dois elementos preponderantes no rendimento do conjunto (Bosingwa e Assunção). Os substitutos (os novos) ainda não estão adaptados à equipa e ao futebol português. Esbarramos com um Xistra PREDISPOSTO a fechar os olhos às entradas maldosas dos jogadores do Sporting, e, em contra partida, A APITAR A TUDO o que lhe parecesse falta contra o FC Porto.
Depois, e alem disso, acho que o Jesualdo, revelou uma certa inépcia na estratégia que adoptou, porque ainda não conseguiu encontrar a fórmula de bater o Sporting.
Chegado a este ponto, volto a insistir na tecla de que para vencer o Sporting, o FC Porto tém de vestir o fato macaco e ser humilde. Defender em primeiro lugar a todo o custo com determinação, com atitude, e, só depois pensar em marcar golos para tentar ganhar. "O QUE ALIÁS,É O QUE O SPORTING DE PAULO BENTO FAZ"(9 elementos a defender,e,2 Derlei matreiro e o rápido Djaló a atacar).(Eis aqui nesta última frase como eu avalio a prestação da equipa do Sporting).E assim, lá vão continuando a ganhar-nos.

PS - Para os sportinguistas!Mesmo a jogarmos mal,com a isenção dum Xistra a nosso favor,a história seria outra,não duvidem.