30 de agosto de 2008

Com travo a injustiça...

BENFICA, 1-FC PORTO, 1
Liga Sagres, 2.ª jornada
Estádio da Luz, em Lisboa
Hora: 20.45
Árbitro: Jorge Sousa (Porto)

EQUIPAS OFICIAIS

BENFICA: Quim, Maxi Pereira, Luisão, Katsouranis, Léo, Yebda, Carlos Martins, Di María, Reyes, Aimar e Cardozo.
Suplentes: Moreira, Balboa, Binya, Makukula, Nuno Gomes, Ruben Amorim e Sidnei.
Treinador: Quique Flores.

FC PORTO:Helton, Sapunaru, Bruno Alves, Rolando, Fucile, Fernando, Lucho, Tomás Costa, Raul Meireles, Cristian Rodriguez e Lisandro.
Suplentes: Nuno, Candeias, Pedro Emanuel, Hulk, Guarín, Lino e Farías.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

Cambaleando de sono, após uma noite mal dormida, o Barbas dirigiu-se para o WC. Esgotado, olhou para o rosto que o mirava, proveniente do espelho. Assustou-se, antes de se reconhecer a si mesmo, reflectido na superfície brilhante. Os olhos encovados, a pele do rosto macilenta e os enormes papos cinzentos, bem debaixo dos olhos, não enganavam. Estava exausto. Engoliu em seco. Uma tarefa simples, mas transformada num acto doloroso, pois a traqueia encontrava-se ressequida. A língua, coberta por uma camada de bilís, exalava um odor agoniante. Com a mão a tremer, abriu o armário dos medicamentos. O tremor acentuado fê-lo deitar abaixo várias caixas de comprimidos. Praguejou em voz alta, sentindo a veia da têmpora a latejar. “Maldita dor de cabeça”, pensou, enquanto enchia um copo de água. O coração acelerado, batendo loucamente, como se fosse uma gazela correndo na savana, aumentava a sensação de vertigem.

Olhou para o relógio. Soltou um gemido baixo. 6.45 da manhã. Ainda faltavam mais de 12 horas para o Benfica-Porto. E o medo, aquele pânico ancestral, já o deixava tolhido. Recuou para a penumbra do quarto, deixando o corpo cansado cair no colchão convidativo. Enrolou-se em posição fetal, começando a proferir, vezes sem conta, como um mantra:
“Desta vez vamos ganhar…desta vez vamos ganhar…desta vez vamos ganhar…desta vez vamos ganhar…”

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Chegou mais cedo ao Estádio do que o normal. Estacionou no lugar do costume. Como um autómato, pegou no cachecol vermelho, pendurou-o descuidadamente ao pescoço, alisou os pelos hirsutos da barba e saiu. Parou, olhando para as luzes do Estádio, iluminando o recinto do jogo. Olhou em volta, expectante. Rostos fechados, bocas cerradas num ricto severo. Olhos aguados, faces crispadas, andares pesarosos. A multidão dirigia-se, lentamente, para o recinto. Deslizando, como num vácuo, seguindo as instruções dos stewards. O medo era palpável, na falange de adeptos encarnados. Dentro em pouco iriam encontrar-se com a sua “besta negra”, o pior pesadelo: a recepção aos TRICAMPEÕES nacionais. O Barbas benzeu-se. Entrou no Estádio…

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Durou 20 minutos a aparente bonomia. Frustrado com o que via, humilhado por mais uma lição táctica, dorido por ver as cores azul e branca trocar a bola, confortavelmente, dominando o encontro, entrou intempestivamente em campo. E, com o espírito desportivo que grassa por aquelas bandas, mimoseou o árbitro assistente com umas “carícias”. Foi convidado, de forma educada, a ir dar a volta ao bilhar grande…

***

Feito este pequeno intróito, vamos lá dissecar o jogo grande da jornada, caprichosamente coincidente com a 2ª jornada. Engoli em seco, ao ver a constituição inicial da equipa. Abanei várias vezes a cabeça, exasperado. “Outra vez?”, murmurei, vendo a pequena revolução levada a cabo por Jesualdo. Desde logo saltava à vista desarmada que o 4-3-3 de estimação tinha sido deixado na Invicta. Os vaticínios, durante a semana, falharam todos redondamente. Nada de Hulk na frente de ataque, nada de Lisandro nas alas, numa transformação radical e inesperada, atendendo aos bons sinais deixados na partida com o Belenenses.

O técnico portista, precavido, optou por uma estratégia calculista, mais comedida em termos ofensivos, mas propiciadora de um maior domínio da partida. Fernando, na sua estreia de Dragão ao peito na Superliga, colmatou o lugar deixado vago por Paulo Assunção. À sua frente, um trio de respeito: a dupla argentino – Lucho e Tomas Costa – e o hiper-tatuado Meireles, servindo de respaldo para as diabruras ofensivas de Lisandro e de Rodriguez. Na defesa, a saída da voz de comando de Pedro Emanuel, capitão de inúmeras batalhas, e a entrada do delfim Rolando. Os dados estavam lançados…

Um dos pontos altos, esperado com ansiedade pela tribo de Neandertais vermelha, era a recepção ao proscrito Cebola. Infelizmente, como não existe, ainda, uma selecção genética, à nascença, para eliminar alguns espécimes que pululam pelos campos do País, lá tivemos que levar com uma dose industrial de impropérios, insultos gratuitos e, claro, estupidez congénita. Nada a que não estejamos habituados…

O jogo começou como muitos outros. Intenso, é certo, com a chama a arder em lume brando, mas numa fase cordata, com as hostilidades a serem remetidas para inglórias acções individuais. Até que…

Sonhei, meses a fio, com a Justiça Divina punitiva. Algo ou alguém que fosse capaz de punir, de forma exemplar, o grande filho da p**a que lesionou com gravidade Anderson. Nunca fui ouvido. Desde desastres de carro, passando por lesões violentas, de tudo um pouco supliquei aos Deuses lá de cima. Não me deram ouvidos. Até hoje.

Passe longo para as costas da defesa encarnada, aproveitando as debilidades defensivas da dupla de centrais, Lucho a esgueirar-se furtivamente e a ser agarrado pelo grego anormal. Grande penalidade justa, convertida com enorme frieza pelo argentino. PUMBA. Golo comemorado a preceito, aqui por casa. Grito estridente, joelhos no chão, junto à TV, e uns piropos menos simpáticos aos protozoários de vermelho. Estávamos na frente…

Com o jogo a subir de intensidade, Lisandro valeu novamente ouro. Não marcou, ele que anda numa fase de divórcio com as redes. Mas salvou um golo cantado pelas bancadas, bem em cima da linha de golo…

Já com a cobarde agressão ao fiscal-de-linha a manchar a noite, Christian Rodriguez passeava classe. Estilo único, cavalgando a faixa esquerda como um puro-sangue, criava dificuldades acrescidas ao último reduto adversário.

Num jogo aparentemente controlado, os fogachos benfiquistas eram, na sua maioria, facilmente contidos. Realce para um, aos 37 minutos, com Aimar a entrar na área portista, mas a ser desarmado em grande estilo por Rolando. Imperial, o jovem central português não acusou a responsabilidade da partida, fazendo lembrar, em muitos aspectos, Pepe. Temos ali um digno herdeiro dos grandes guerreiros de azul do passado. Poderoso, com elevado sentido táctico, forte impulsão e uma capacidade quase sobrenatural de adivinhar o local exacto onde cai a bola, mostrou uma maturidade desconhecida...

Bem antes do intervalo, a prova definitiva de que os Deuses da Fortuna nos viraram as costas. Depois da Supertaça e da bomba de Lucho devolvida pelo poste, foi a vez de Lisandro rematar para golo, mas com o esférico a bater caprichosamente no ferro da baliza de Quim. Oportunidade soberana de, definitivamente, encerrar as festividades.

Se a 1ª metade acabou com uma oportunidade desperdiçada, a 2ª iniciou-se da mesma forma. Guarin, substituto de Tomas Costa, serve na perfeição Licha, mas este deslumbra-se com a oferta e falha a sua estreia a marcar, nesta edição da Superliga.

Numa segunda metade repleta de emoção, o Benfica chega ao empate numa falha clamorosa de Helton, oferecendo a bola para o cabeceamento de Cardozo. O esforço titânico de Bruno Alves quase impedia a bola de se anichar nas redes. Castigo injusto para a melhor equipa em campo, fustigada por uma série de factores aleatórios, bafejando o opositor.

Se os Deuses da Fortuna nos viraram as costas, os da Justiça descarregaram as sentenças pendentes todas sobre Katsouranis. Aos 60 minutos, após mais uma dura falta sobre Cebola, o árbitro da partida [corajoso e não se deixando intimidar pela turba] expulsou o prevaricador helénico.

Até ao fim, com mais um homem e com Hulk em campo, os portistas bem tentaram o golo redentor, prémio justo ao labor. Esteve perto, por várias vezes. Fucile e Candeias, novamente irreverente e sem medo de encarar o adversário directo, estiveram perto da consagração. Não era, infelizmente, o nosso dia. E no ar, pese o empate, ficou o sabor agridoce da frustração pela perda de dois pontos…

Melhor em campo: Difícil escolha, mas opto por Christian Rodriguez. Raça, força, potência, uma enorme capacidade de ignorar o ambiente adverso, resistindo às picardias e agressões dos antigos companheiros, provocou várias vezes o pânico na área encarnada.

Arbitragem: Pouco a dizer. Apenas um OBRIGADO. Pela coragem. Pelo estoicismo. Pela capacidade de análise, mesmo apitando numa panela de pressão. Pela argúcia em destrinçar os lances polémicos, mesmo correndo risco de agressão. É que, bem vistas as coisas, há quem queira ganhar de qualquer forma. Na Luz estão habituados a isso. Não estão é habituados a arbitragens isentas...

5 comentários:

dragao vila pouca disse...

Força Porto, nem que seja por meio a zero.
Acho que Jesualdo vai surpreender na constituição da equipa.
Um abraço

Dragaoatento disse...

Paulo, Concordo.
And Good luck Dragões!

Abraço

Dragaoatento disse...

Olá Paulo!
O FC Porto de Jesualdo Ferreira perdeu uma oportunidade soberana de bater o SLB no seu terreno.
Por duas razões principais: o golo do Benfica foi obtido devido a uma defesa deficiente do Helton que ao sacudir a bola para a frente,entregou nitidamente o ouro ao bandido,e,devido à inépcia dos seus avançados no capítulo da finalização.
Importante:Jesualdo devia puxar as orelhas ao Candeias,por este jogador em início de carreira,já querer imitar o Quaresma, arriscando um remate para fora quando lhe competia executar uma assistência para os dois colegas desmarcados(bem colocados)!E assim se perdeu mais uma oportunidade de ganhar o jogo.
A esta equipa do FC Porto,se bem que já mostrou algumas coisas boas,ainda lhe falta,muito trabalho,em termos de afinar os automatismos,e da eficácia,até podermos dizer que temos uma boa equipa,um bom conjunto.
Na 2ª parte o rendimento da equipa do FCP baixou imenso,não obstante os elementos mais frescos que entraram!Porventura devido ao excessivo individualismo,desses elementos que entraram para refrescar a equipa.

Abraço

Anónimo disse...

Fica apenas um reparo em relação à arbitragem que, na minha modesta opinião, nem foi assim tão boa:
Aos 4 minutos agressão, dentro da área, de Luisão julgo que a Rodriguez. Vermelho por mostrar...

O lance do golo encarnado é mais do que duvidoso, sendo ainda notório que nenhuma repetição mostra com clareza a bola a entrar...

De resto, fomos melhores em tudo.

Dragaoatento disse...

Viva Paulo!

Sobre o jogo,confesso que houve aspectos que me aborreceram profundamente.Gosto de ver o futebol como um desporto e num contexto de diversão.As constantes agressões, as entradas maldosas,por parte de certos jogadores do Benfica a jogadores do FC Porto,mais as cenas de teatro (rebolando-se no chão)d'alguns jogadores benfiquistas a tentarem impressionar o árbitro a fim de o convencerem a amostrar o cartão amarelo aos jogadores do FCP!Tudo isto me incomoda.E eis aqui algumas das razões porque não vou ver certos jogos.Não gosto de touradas.

Depois,ganhar a qualquer preço, como o Benfica tentou fazer,corre-se o risco de transformar um jogo de futebol ,um espectáculo de diversão,num campo de batalha, em que o espírito desportivo deixa de existir para dar lugar à brutalidade!
E efectivamente foram muitas as agressões,por parte de certos jogadores do Benfica,a jogadores do FC Porto,a que o árbitro optou por fechar os olhos,para não ter de sancionar ainda mais a equipa do Benfica,facto este que a ser posto em prática,iria agravar mais a situação da equipa encarnada.

Outro aspecto que me desagradou imenso foi a inesperada inépcia do Lisandro!E para agravar mais a situação,aquela autentica anedota do Helton,passar a bola ao Cardoso!
Já reparaste que não é a primeira vez que o Helton em momentos importantes compromete a equipa?!Já aconteceu no passado,e pelos vistos vai voltar a acontecer no futuro.Esperemos que o Ventura ganhe ràpidamente maturidade, senão estamos tramados. Se o Helton fosse o guarda-redes do Benfica,teriamos goleado. Como "Keeper" é inferior por exemplo, ao Quim.

Abraço

PS - Tb não percebi!Só 4 minutos de tempo extra dado pelo árbitro, depois daquele tempo todo perdido com as lesões dos jogadores do Benfica.