Guilherme Aguiar, de 55 anos, ex-director executivo da Liga, é um dos mais conhecidos adeptos do FC Porto, fruto da notoriedade televisiva. Sempre crítico da Liga, desta vez elogia o trabalho de Hermínio Loureiro. A entrevista, concedida a um dos pasquins que tem como passatempo prioritário o ataque vil ao FC Porto, reúne algumas idéias interessantes, abordando questões cruciais como a futura sucessão de Pinto da Costa. Corrosivo, fica para a história a frase com que responde à primeira pergunta: "é pena não haver mais competitividade na Liga". O Correio da Manhã deve ter engolido o sapo inteirinho....
- Guilherme Aguiar – Infelizmente, porque é pena não haver mais competitividade. O FC Porto afastou-se dos mais directos rivais, fruto de uma organização que tem um rosto: Pinto da Costa. Nos últimos 25 anos é o denominador comum nas vitórias do FC Porto.
- Acha que o FC Porto vai ultrapassar o Benfica em número de títulos?
- Se mantiver a mesma hegemonia ultrapassa dentro de 15 anos. E os êxitos do FC Porto foram mais difíceis do que os do Benfica, que era o clube da capital e do poder instituído.
- Como ficará o FC Porto quando Pinto da Costa deixar a presidência?
- Não podemos fazer uma análise correcta sobre quais serão as consequências. Certo é que ninguém o conseguirá igualar neste século.
- Guilherme de Aguiar poderá ser o sucessor de Pinto da Costa?
- Não alimento esse objectivo nem tenho quaisquer ambições de suceder a Pinto da Costa. Mas na vida não coloco nada de parte. Os projectos em que me envolvo não partem de pressupostos pensados, as coisas vão acontecendo. Mas não tenho essa ambição e não estou a ver no meu horizonte próximo ou remoto que possa vir a ser presidente do FC Porto.
- Pinto da Costa já está a preparar a sucessão?
- O FC Porto não é uma monarquia. Quando ele sair é que se verá que tipo de dirigente se poderá abalançar a essa tarefa. Mas o FC Porto deixará de ser gerido por uma só pessoa e os grupos económicos serão importantes para encontrar o sucessor de Pinto da Costa. Os sócios também terão uma palavra a dizer mas os dados mudaram.
- Não são os sócios do FC Porto que escolhem o presidente do clube?
- O FC Porto não é só um clube desportivo, por muito que se tente distrair as pessoas. É um grupo económico, que não dá grande lucro mas tem uma grande valia competitiva. Em 1983, Pinto da Costa candidatou-se dizendo “sou portista, tenho um passado”, foi de porta em porta e acabou eleito. Agora as coisas são muito diferentes e, volto a dizer, os grupos económicos terão uma palavra muito importante.
- De que grupos está a falar?
- Dos grupos que forem accionistas do FC Porto na data em que Pinto da Costa abandonar.
- Tem relações com os dirigentes do FC Porto, o clube não lhe pede que faça passar mensagens?
- Não, porque eu não sou um representante do FC Porto, sou um mero adepto que fui convidado a participar neste programa (‘O dia seguinte’, na SIC) e noutros no passado. Esses contactos prévios não acontecem, eu não represento a Direcção do FC Porto. Sou amigo de Pinto da Costa mas ele gere o FC Porto sem precisar de falar comigo e eu também sou adepto sem ter de pedir o seu apoio. Temos uma salutar independência.
- Como amigo, Pinto da Costa nunca lhe deu um puxão de orelhas por algo que tenha dito como comentador?
- Nem eu admitiria levar um puxão de orelhas. E temos muitas vezes opiniões diferentes.
- Não é estranho Jesualdo Ferreira não ter ainda renovado?
- Quem conhece Pinto da Costa sabe que ele normalmente renova com os treinadores quando eles estão em baixa e Jesualdo está em alta. Jesualdo só sairá do FC Porto em condições anómalas, só por um litígio que possa existir ou por um contrato milionário que apareça. Em Portugal, tenho a certeza de que ele não troca o FC Porto por nenhum outro clube.
- Como analisa o desempenho da actual Direcção da Liga, presidida por Hermínio Loureiro?
- Tem sido positivo. Angariaram uma série de receitas de patrocinadores... Só há um ponto negativo, que é não terem introduzido um sistema de fiscalização das contas dos clubes. Os orçamentos apresentados pelos clubes no início da época não são correctos, as receitas são empoladas face às despesas, mas a Liga não fiscaliza.
- O que lhe parece a actuação da Comissão Disciplinar (CD) da Liga?
- É muito virada para o ‘show-off’’, fala-se muito e faz-se pouco. Há demasiada violência nos jogos. Vemos entradas que não são punidas e a CD nada faz. Nesta época só instauraram um sumaríssimo, ao Katsouranis, por um gesto obsceno, e em todos os jogos há lances violentos. Eu entendo que as imagens televisivas devem ser utilizadas e, mesmo quando os lances são sancionados, se a punição não tiver sido a adequada deve ser corrigida.
- Também tem sido muito crítico da Comissão de Arbitragem...
- Infelizmente, o dirigente Vítor Pereira não chega aos calcanhares do árbitro Vítor Pereira, com quem tive a honra de trabalhar. Os árbitros não estão a ser devidamente protegidos. Têm mais meios técnicos e regalias financeiras mas as suas actuações estão longe de ser iguais ao tempo em que eu era director executivo.
- Mas não acha que os árbitros devem ser punidos quando erram?...
- Essas punições são só para inglês ver, é uma jogada de fachada. Não se pode penalizar sem verificar se o árbitro tinha hipótese de ver o lance, e isso os observadores não podem avaliar. E será que o árbitro melhora se ficar em casa dois ou três jogos? Quando me candidatei à Liga em 2002 apresentei uma proposta para a avaliação do árbitro ser feita em 50/60 % pelos obervadores no campo e o resto por meios audiovisuais. Seis anos depois, nada.
- A Taça da Liga veio para ficar?
- É uma prova interessante, cuja previsão existia desde 1995. No essencial, a prova está bem pensada mas só terá total adesão dos clubes quando o vencedor for apurado para uma prova europeia. Isso passa por uma negociação entre a Liga e a FPF.
- Acredita que até final da época a CD da Liga decidirá sobre o Apito Dourado, como foi prometido?
- Mais uma vez falou-se de mais. Para haver uma condenação tem que se dar factos como provados, e a questão que se coloca é de que forma a CD poderá utilizar presunções para condenar antes de as decisões penais serem conhecidas.
- E a justiça desportiva pode utilizar as escutas?
- Tenho sérias dúvidas. As escutas telefónicas só são permitidas em determinados crimes e quando sancionadas pelo juiz – e há grande discussão sobre a eficácia e validade desse meio de prova.
- O seu nome aparece no processo ‘Apito Dourado’?
- Em todas as escutas do ‘Apito Dourado’ que já foram publicadas nos jornais o meu nome nunca consta. É a prova da forma correcta como se trabalhou quando eu estive na Liga.
- Planeia voltar a candidatar-se à Liga de Clubes?
- Neste momento, não.
- Acha que Scolari vai sair após o Euro’2008?
- Não sei. Mas já devia ter saído há muito tempo – e só não saiu porque não teve alternativas financeiramente compensatórias. Foi ele que escolheu ser anti-FC Porto e anti-Pinto da Costa.
- Teve uma polémica com Lourenço Pinto, presidente da Associação de Futebol do Porto...
- Ele questionou os meus méritos para integrar o Conselho Nacional do Desporto mas posso dizer que já fiz mais pela legislação desportiva do que ele alguma vez fará. Tenho os meus méritos.
- Porque veio defender o Belenenses no caso Meyong?
- Não tenho nada que ver com o Belenenses, basta recordar as minhas posições no caso Mateus. Só acho é que o Belenenses, neste caso, não pode ser punido porque os regulamentos de transferência da FIFA não foram transpostos para a ordem jurídica portuguesa através de uma AG da Liga. E no regulamento disciplinar da Liga não está previsto este ilícito.
2 comentários:
Interessante...é pena que na sic, como comentador, deixe muito a desejar.
Um abraço
Paulo Pereira :
É pena que na televisão ele não evidencie , como o faz nesta entrevista , tanta objectividade e clareza .
Só teríamos a ganhar.
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