6 de agosto de 2007

Azia matinal

Há dias assim, em que acordo aziado. Com o fel perto da boca, deixando aquele gosto pouco recomendável. Talvez das poucas horas de sono, provavelmente pelo calor, o que sei é que sinto o estômago a fermentar, naquele "cozinhado" lento de ressentimento, sem saber bem contra quem é que hei-de virar o mau humor que, já sei, me vai atormentar o dia de hoje.

Não demoro muito, percorrendo as notícias dos últimos dias, a encontrar um dos ódios de estimação, contra quem virar o azimute da raiva. Vai daí, resolvi destilar umas palavrinhas azedas ao "Mubarak do deserto", esse intragável treinador que consegue a proeza de ter uma voz mais irritante do que o titular da baliza da Selecção. Se, neste ponto, ainda não descobriu que estou a falar de Manuel José, o caro leitor deverá, com a maior urgência, procurar outras paragens e outros interesses mais inócuos do que o futebol.

O "Mourinho de África", como ele NÃO gosta de ser conhecido tem um ego sobredimensionado, achando-se até, pasme-se, o sucessor natural de Scolari, na chefia da Selecção. Faço uma pausa e bato na madeira, 3 vezes, conforme me ensinaram anos e anos de práticas pagãs. "Dasse...era o que mais faltava", dou por mim a exclamar, perante o espanto matinal da minha esposa, ainda surpreendida com estes acessos de loucura.

Pois, era mesmo o que mais faltava. Depois do reinado de Scolari e da sua visível e alimentada aversão ao azul e branco, não me admirava nada que, mais do que um curriculum de vitórias, o necessário para ser seleccionador fosse o ódio ao FC Porto. Nesse aspecto, então poucos candidatos poderão competir com Manuel José. O autor da frase "nunca treinarei o Porto enquanto lá estiver Pinto da Costa" tem, desde logo, um belo cartão de visita.

Um leitor mais isento até poderá achar que a apreciação tem algo de injusta. Basta folhear os jornais para o mais desatento deste fenómeno futebolístico achar que a catadupa de títulos ganhos no Egipto, ao serviço do Al-Ahly, serve para alguma coisa. Sim, servirá. Duvido que no país dos faraós alguém não saiba quem é Manuel José. Talvez lá e nos países circundantes. Mas convenhamos que, por muito bom que seja o advogado de defesa, é difícil convencer alguém que aquele futebol tem alguma expressão. Vá lá, quem conhecer o nome de dois ou três jogadores do plantel do "faraó" que levante o dedo...

Hummm, ninguém? Só um então...

Também não? Vêem o que quero dizer? Dêem uma saltada a Espanha, aproveitando o período de férias e, numa esplanada à beira-mar plantada, gozando as delícias de uma cerveja gelada, enquanto os olhos de distraem com as bundas das estrangeitas nórdicas, despidas de preconceitos, entabulem uma conversa com um exemplar de nuestros hermanos. Ou outro turista qualquer. Tentem descobrir quem conhece Manuel José. Aposto - e é uma aposta válida, com direito a odds chorudas - que ninguém, nunca, em parte alguma, reconhece os méritos que o próprio acha que tem...

Estarei a ser injusto, movido apenas pela mesquinhice de detractar publicamente o enfatuado treinador? Parece-me que, pesando prós e contras, nem por isso. Em Portugal, onde ele teve inúmeras oportunidades de brilhar, o que é que foi conseguido? Uma Taça de Portugal - parece-me, que esta memória já não é o que era - ao serviço do Boavista e pouco mais. Despedido, hilariantemente, do Benfica por incompetência, treinou os outros vizinhos da segunda circular, sem sucesso e...

Uma mão cheia de nada. Manuel José é um balão cheio de ar, vivendo alimentado por uma imprensa que o vai glorificando até ao ponto que o próprio já nem se apercebe do ridículo de algumas intervenções. Na minha boa-fé, ser Seleccionador Nacional ainda é um objectivo a ser alcançado apenas pelos melhores. Um cargo que urge não banalizar. Uma chefia de uma das melhores selecções mundiais, estatuto adquirido com esforço e trabalho árduo, deve ser entregue a alguém de méritos reconhecidos. Manuel José, por muito que o tentem transformar, não é um desses. Por isso, espero que prevaleça o bom senso na Federação, nos tempos pós-Scolari. É que não me dava jeito nenhum pedir a mudança de nacionalidade. Só a papelada que deve ser preciso tratar...

3 comentários:

Anónimo disse...

Já somos dois então a não gostar do individuo. Ele bem que se põe em bicos dos pés, a ver se alguem repara nele e, para mal dos nossos pecados, é bem capaz de se safar. Esse gajo na Selecção vai ser um estrondo. O que me espanta não é ele achar que tem estatuto moral para se candidatar ao posto, é a imprensa alimentar essa ideia. Não teremos nós melhores treinadores?

Anónimo disse...

Paulo, não te desejo mal, mas parece-me que terás que mudar de nacionalidade:)
Pelo andar da carruagem, Manuel José será o sucessor de Scolari. Convenhamos que ele já tem o caminho facilitado. Scolari tentou ostracizar o Porto, por isso, mesmo que este faça o mesmo, nós já nem reparamos.

Um abraço,

Bruno Pinto disse...

Paulo, não sou grande admirador de Manuel José, mas reconheço os seus méritos como treinador do Al Ahly e gosto do sucesso dos portugueses lá fora. Por outro lado, é verdade que ele se anda a pôr em bicos de pés para ser seleccionador nacional, mas não acredito minimamente nessa possibilidade. Não acho que Manuel José vá ser o próximo técnico nacional. O nome que mais gostava para suceder a Scolari seria Carlos Queiroz.

Abraço