4 de junho de 2007

Entrevista do Mister!


A actualidade portista foi hoje marcada por...não, não é por aquilo que estão a pensar. Não aterrou mais nenhum reforço no Aeroporto Sá Carneiro. A actualidade foi marcada pela entrevista do técnico do campeão nacional, Jesualdo Ferreira, ao jornal "O Jogo". Uma extensa entrevista, de sete páginas, onde o mister portista abre a alma e fala sobre tudo. Ou praticamente tudo...


Ser campeão

“A verdade é que as condições que encontrei no FC Porto e a felicidade que tive após últimos anos bons criaram essa possibilidade. Quase que direi que me vi obrigado a ser campeão. No Benfica não estavam criadas boas condições para poder ganhar. Nos últimos anos, o Benfica apenas ganhou uma vez o campeonato e passaram por lá bons treinadores. Fiz o que pude mas foi no FC Porto que encontrei as condições para ser campeão.”
”Não senti da parte de ninguém que o FC Porto não seria campeão. Sabíamos que o jogo com o Aves tinha corrido relativamente bem na 1.ª parte. Sentíamos alguma ansiedade que foi controlada com o golo, o golo do Aves não me pareceu que tenha perturbado a equipa. Foi apenas pedido ao intervalo, de grande intensidade, que jogassem bem e que confiassem nas suas capacidades.”


Heranças


”Todos sabem que a minha entrada no FC Porto não foi normal porque entrar a 4 dias do primeiro jogo no campeonato não é normal. Não é normal ter que ganhar sempre, no FC Porto é. Não é normal também a forma como a ruptura aconteceu entre o treinador e os jogadores. Encontrei um clima que não era de todo favorável. Entrei e em pouco tempo fiz um curso acelerado para conhecer tudo – não é fácil, a de ter que ganhar sempre. Ganhar não é fácil.”
”Herdei uma equipa que era do FC Porto, não era do senhor Adriaanse, seguramente com jogadores que terão sido escolha do senhor Adriaanse. 70% dos jogadores não são jogadores que tenham sido escolhidos pelo treinador, é uma situação normal. Vamos ser acima de tudo sérios na forma como abordamos as coisas. O que eu encontrei foi uma equipa campeã, que tinha feito um trajecto bom no ano anterior, uma equipa que tinha um modelo assegurado pelo seu.”
”Não é normal uma equipa fazer tantos jogos com 2 derrotas (Arsenal e Braga) num contexto de 20 jogos, 14 mais 6 jogos. Perdemos duas vezes em que os jogadores tiveram 4/6 semanas de trabalho em conjunto. Foram jogadores que foram capazes de apanhar com alguma facilidade o que se pretendia. O senhor Adriaanse fez um bom campeonato, ganhou a taça e fez uma má Champions. Era um treinador extremamente rigoroso e havia uma equipa de ataque, tudo o que fosse contrário a isto seria por baixo. A primeira volta foi melhor que a primeira volta do senhor Adriaanse, o sistema foi sempre posto em comparação, a verdade é que chegamos ao fim e marcamos mais golos que no tempo do senhor Adriaanse. O que foi mais importante foi termos passado a fase de grupos e discutir com o Chelsea até 10 minutos do fim passagem aos quartos-de-final. O FC Porto foi campeão, passou aos oitavos e num quadro de 2 anos foi duas vezes campeão, ganhou uma taça e foi aos oitavos de final da Champions, isso é que foi importante.”


Férias de Natal

”As férias que os jogadores tiveram foram menores que no ano anterior (tempo em que estiveram sem treinar). A diferença que existiu é que o calendário foi diferente. Para o FC Porto, até nos era favorável. Tínhamos um jogo com o Atlético que era o primeiro pós recomeço. O FC porto tinha jogo no dia 7, tinha o Aves a 14, voltava a ter taça, e este enquadramento, com 2 jogos em casa, seguia-se sequência até à Champions, a lógica estava correcta, o que não estava no programa era sermos eliminados pelo Atlético e a partir daí perdemos percurso. E nesse período Pepe, Lucho e Bruno Alves apresentaram algumas dificuldades e não participaram na Taça. Não ganhamos ao Atlético porque fomos incompetentes. O FC Porto não perdeu um jogo, perdeu uma competição que queríamos ganhar e retirou-nos a sequência normal de preparação que a equipa teria que ter.”
Arbitragens”A arbitragem de Leiria retirou-nos a possibilidade de ganhar aquele jogo, dificilmente as outras equipas poderiam chegar a nós. Há uma análise de um assistente que já tinha alguma coisa com o próprio Quaresma no passado e aconteceu um golo em cima do mesmo assistente onde não existiu qualquer falta (falta idêntica à do Fucile sobre o Simão que deu origem ao golo do Benfica, as tais faltas impensáveis). O que aconteceu em Leiria e na Luz, as únicas vezes que falei de arbitragem, é que não falei porque tivesse de justificar nada. Para investigar não é necessário que sejam dados recados de ninguém, tem a ver com a forma como o jogo foi apitado. Deviam ver aquele jogo, deviam investigar bem. De facto, durante muito tempo, e nós fomos aguentando… e quero recordar que na Luz, que era o jogo decisivo na perspectiva da comunicação social, o FC Porto levou com um amarelo aos 2 minutos Bruno Alves e o Simão aos 4 não foi punido. É muito fácil chegar ao jogo com o Sporting e dizer que o FC Porto perdeu porque o treinador foi incompetente. Limitei-me a fazer uma observação. No fim do jogo com o Benfica não falei de arbitragem, só disse que o golo do Benfica foi fora-de-jogo.”


Adversários e a época

”O Benfica e o Sporting acabaram 1.ª volta a 8 e 7 pontos do FC Porto, seis jornadas depois o Sporting chegou aqui com 9, ou seja, mesmo com o mau trabalho do FC Porto, o Sporting conseguiu fazer pior. E depois disso vocês, imprensa, criaram um novo campeonato, branquearam claramente a primeira volta do Benfica e as 22 jornadas do Sporting. Se formos observar com todo o rigor, o Benfica fez melhor campeonato do que o Sporting. Durante o tempo em que estivemos em primeiro lugar, era uma fatalidade o FC Porto ir à frente e os outros estarem tão distantes. O FC Porto na 2.ª volta foi colocado em níveis baixíssimos e o gáudio geral era ver o Chelsea esmagar o FC porto, foi uma coisa inacreditável a que pude assistir em termos de imprensa. A realidade foi que nós, FC Porto, tivemos alguns problemas decorrentes do que é o trajecto normal de uma equipa de futebol, tivemos algumas lesões de jogadores importantes que causaram problemas de táctica, e o FC Porto resistiu a tudo isto e a uma imprensa hostil durante todo o campeonato. Quando fomos à luz, a um ponto do Benfica, estava claro que o Benfica seria campeão e ganharia o jogo e de repente nós empatamos e ficamos a 1 pontos do Benfica e 4 do Sporting e a imprensa disse, pronto, o FC Porto é campeão. É um processo digamos de lavagem cerebral, era tão perceptível… Parece que o campeonato só teve 7 jornadas.”


O colo do FC Porto

”O que sinto é quem leva ao colo o FC Porto são os seus adeptos, é a sua organização. O colo do FC Porto é a sua própria estrutura, são os seus adeptos. Esse é o colo. O exterior não tem colo para o FC Porto.”


Baía

”O Vítor Baía estava numa situação que não é fácil, quem não tem alguns anos de balneário talvez não possa verificar na sua amplitude o que é ter um jogador como ele no banco e o que é que esse jogador sente naquela posição. Por essas razões é que entendi na chegada ao FC Porto que havia uma equipa que tinha um balneário com 4 capitães e entendi que não tinha de mexer em nada, apenas o Lucho com 1 ano de Porto participava, os outros não… Não é uma situação normal. O que o Vítor Baía fez foi o papel de jogador e capitão de equipa e isso ele assumiu, durante muito tempo de uma forma que fazia parte da estratégia de envolver o FCPorto em situações menos correctas, de amolecimento, de intrigas, de boca, daquilo que é normal fazermos em Portugal. Falou-se que era adjunto, depois principal, depois ele é que mandava. A mim não me tocou minimamente, ele sabia que aquilo não era verdade, todo o plantel também. O Vítor Baía tinha o seu papel, e bem, era um jogador que treinava, e bem, e que tinha as atribuições de capitão que tinha naturalmente e que eu reforcei ainda mais porque entendi que era um jogador importante. O Vítor Baía marcou uma época no FC Porto, foi importante durante muito tempo enquanto jogador e este ano era jogador que não jogava mas foi sempre de uma postura irrepreensível, direi mesmo que dificilmente encontraria um jogador capaz de enfrentar assim uma situação destas.”


Imprensa


”O FC Porto foi hostilizado pela imprensa e pelas empresas que gerem a comunicação social. Revelaram a determinado momento um gáudio muito grande que me enojou. O que se pretendeu dizer foi que o FC Porto ficou sem liderança. Não é verdade. Falei o que falaria se houvesse mais alguém a falar. O que estavam habituados era que houvesse outras vozes.”


Apito Dourado


”O apito dourado não mexeu com a liderança, é que o FC Porto foi campeão mesmo sem apitos dourados. É estranho entregar o apito dourado ao Norte e ao FC Porto, mais ninguém está envolvido? A conotação com o FC Porto e o Boavista é uma forma de alterar o circuito. É essa a estratégia e deixaram a equipa entregue ao treinador e às suas competências e aos jogadores, portanto, o apito dourado não teve consequências e o FC Porto foi campeão e isto custa até para o próprio processo. O FC Porto ganhou o campeonato em pleno julgamento do apito dourado, o que deu um gozo muito grande ao presidente. Custa o FC porto ganhar, entendo agora porque é que custa. Era perceptível quando estava fora porque ganhava o FC Porto e não era por causa do apito dourado, era porque era melhor.”

2 comentários:

Anónimo disse...

É o desvendar da alma de quem sempre manteve, mesmo sobre pressão, uma lisura de comportamentos. E tem razão em tudo. No achincalhamento da comunicação social - lgo já habitual - que teceia cada vez mais elogios ao cromo do penteado ao meio, como se este fosse a 8ª maravilha do Mundo. Jesualdo, mesmo com opções tácticas duvidosas, lutou bravamente, empunhando muitas vezes sozinho a bandeira do Porto. E não nos podemos esquecer que foi o ano e o campeonato do Apito Dourado, em que todas as facas estavam apontadas ao PORTO. Tiveram azar. Não nos podem apontar nada. Continuo um adepto indefectível de Jesualdo. Um grande senhor.

Anónimo disse...

A expressão de Jesualdo na fotografia diz tudo. O soltar do grito de vitória. Li a entrevista na íntegra e achei-a bastante interessante, com muitas verdades ditas. O Mister está a tornar-se um verdadeiro Dragão!