12 de janeiro de 2009

Ode ao desperdício


assistência: 28.408 espectadores.
árbitros: Luís Reforço, António Godinho e Nuno Roque; Carlos Xistra.

FC PORTO: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves e Benítez; Fernando, Raul Meireles e Lucho «cap.»; Lisandro, Hulk e Rodríguez.
Substituições: Benítez por Mariano (61 min), Fernando por Guarin (68 min) e Raul Meireles por Farias (80 min).
Não utilizados: Nuno, Pedro Emanuel, Stepanov e Tomás Costa.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

TROFENSE: Paulo Lopes; Paulinho, Milton do Ó «cap.», Valdomiro e Areias; Mércio, Delfim, Hugo Leal e Tiago Pinto; Hélder Barbosa e Reguila.
Substituições: Hélder Barbosa por David Caiado (65 min), Hugo Leal por Pinheiro (82 min) e Reguila por Rui Borges (89 min).
Não utilizados: Marco, Lipatin, Sidney e Zamorano.
Treinador: Tulipa.

disciplina: cartão amarelo a Tiago Pinto (36 min), Benítez (58 min), Milton do Ó (60 e 90 min) e Helton (90 min); Cartão vermelho a Milton do Ó (90 min).

golos: ---.

“Yippee-ki-yay, motherfucker”, dizia John McClane no mítico Assalto ao Arranha-Céus, saga bélico-destrutiva, onde um polícia manifestava o seu estado de alma, em períodos de euforia, com a frase acima descrita. É o que me apetece dizer, sempre, ao ver o Porto de regresso ao lar, pronto para mais um embate, guerreiros incansáveis na luta pelo ceptro nacional.

E hoje, mais do que outras vezes, esse sentimento, misto de ansiedade com euforia, ganha significado diferente. Uma vitória e os consequentes três pontos alcandoram o Porto ao seu posto de eleição. O 1º lugar. Não é um desafio hercúleo imaginar os Dragões no posto cimeiro da Superliga, tantas e tão repetidas vezes o feito foi celebrado. Mas será sempre com genuíno prazer que assistiremos a mais uma subida, feita a pulso, de forma tradicional, ultrapassado o período negro de maus resultados.

Como opositor, procurando impedir a onda de felicidade de banhar os fidelizados simpatizantes portistas, um Trofense em estado de exaltação de alma. À partida, este encontro aprazado para a gélida noite da Invicta, parece copiar na integra o confronto bíblico entre David e Golias. Só que este David, pequenino, é aparentemente feito de rija cepa, aplacando com contundência a soberba encarnada, na última jornada.

A vitória, épica, teve o mesmo efeito que uma injecção de adrenalina num moribundo. Vivendo ainda com os ecos da glorificação da proeza, os comandados de Tulipa [que regressa a uma casa que já foi sua] prometem fazer das fraquezas forças, cerrando os dentes com estoicismo, procurando encontrar o antídoto eficaz que pare a máquina atacante portista. Se de um lado encontramos um interveniente em estado de graça, do outro estão onze bravos que respiram confiança. Firmeza. Segurança. Por breves dias foram primeiros. Se vencerem, são-no novamente. Vai ser um jogo interessante.

Pena os momentos que o antecedem. No “dolce faire niente” do lar, aborrecido pela falta de actividade, tentei o zapping na tv. Asneira. E da grossa. Preferia estar entediado. Assim, um breve vislumbre do Braga contra uma equipa de que não me recordo do nome redundou numa frustração. Tremenda. Detesto injustiças. E ver um jogador da equipa de que não me lembro o nome marcar um golo ferido de legalidade [um eufemismo, para não escrever aqui um descarado ROUBO], prejudicando a equipa minhota, colocou-me mal disposto. O que dirão os jornais amanhã, perante este evidente escândalo arbitral?

Quanto às novidades no onze inicial, as esperadas. Aparentemente, Benitez está reabilitado, perdido o rótulo de proscrito. O argentino, com o recente reforço para a sua posição nas bancadas, pisou o palco com a clara intenção de provar que tem qualidade. Nós, adeptos, agradecíamos que assim fosse. O lado esquerdo da defesa mostra-se depauperado, presa fácil para os adversários, pese toda a abnegação que Pedro Emanuel tem posto, na realização da tarefa.

Foi uma entrada de Dragão. A cheirar o golo, logo no minuto inaugural, com Meireles a falhar a emenda, após excelente iniciativa de Hulk, cada vez mais preponderante nas manobras ofensivas da equipa. Ainda se ouviam os ecos do “bruáaa” que o lance tinha provocado nas bancadas, quando Rodriguez dispara cruzado, levando a bola a embate no poste. O Porto entrava a mandar, procurando não permitir veleidades a um adversário que se poderia tornar incómodo. O jogo estava rasgadinho, intenso, com a jovem equipa de Tulipa a procurar responder, sempre que se encontrava na posse da bola. Mas o sinal mais era, claramente, dos azuis e brancos.

Rolando, na sequência de um canto, elevou-se elegantemente, quase introduzindo o esférico na baliza de Paulo Lopes. Era um Porto pressionante, rolo compressor, empurrando o adversário para trás. Lucho, fisicamente recuperado de mazelas antigas, apareceu em jogo. Comandando, qual general ensinando o caminho da vitória aos seus soldados.

O relógio mostrava que vinte minutos se tinham já esgotado, quando El Comandante teve na cabeça a explosão de prazer das massas. A bola, selada e com destino garantido nas redes das gentes da Trofa, foi salva quase miraculosamente por Tiago Pinto, o rebento de outro Pinto “amigo” de Paulinho Santos. Uma. Duas. Três. Estoicamente, o Trofense resistia, acossado.

Os nervos [pelo menos cá em casa] aumentavam, a cada novo falhanço. Fantasmas de outros tempos, sempre dispostos a atazanarem o sistema nervoso de um adepto. Com Hulk estranhamente colado à linha, do lado direito, sem o fulgor de jornadas anteriores, e com a defesa, nomeadamente Fucile, a falhar passes de forma compulsiva, os azuis e brancos entraram no pior período da partida, errando lateralizações, perdendo os mecanismos de ligação entre os sectores. E depois, mesmo à beirinha do intervalo…

Alguém a querer protagonismo, ou aparecendo no bem tratado relvado do Dragão com a lição bem estudada, “esqueceu-se” das leis básicas do jogo. Carga dentro da área é passível de marcação de grande penalidade. Mas, ironicamente, parece que existem dois livros de leis de jogo. Um, para os outros encontros, onde lances como o que Fucile é abalroado são marcados. O outro, para ser usado na destrinça dos lances em que o FCP intervenha. E lá, nesse obscuro livro, deve existir uma alínea qualquer onde se legitima que “qualquer falta sobre um atleta trajando as ignominiosas camisolas com as listas verticais azuis e brancas, dentro da área, deve ser transformada em carga de ombro. Ponto”.

E assim chegou-se ao intervalo. Apetecia-me escrever que da segunda parte não reza a história. Mas não posso. No hino ao desperdício, com oportunidades desperdiçadas de forma inacreditável, o Porto deita fora a liderança [tal como na 5ª jornada, derrotados depois pelo Leixões, em casa], somando 180 minutos no Dragão sem conseguir… marcar um golo. E é aí que reside o busílis da questão. A ausência de um verdadeiro matador, um ponta de lança letal, que consiga dar seguimento ao caudal ofensivo.

É, claro, com um travo amargo na boca que escrevo as últimas linhas. Apetece-me barafustar. Gritar a minha revolta. Soltar a raiva que me consome, por ver o 1º lugar fugir, antes de uma deslocação tremendamente complicada. Em consciência, julgo que não o devo fazer, aplacando a frustração de outra forma. O Porto realizou uma exibição meritória, pecando no já referido capítulo da finalização. Nesse abundante jogo ofensivo, os pupilos de Jesualdo tiveram dezenas de remates, aliados a cerca de 15 cantos. Todos com o mesmo destino. Defendidos, com maior ou menor dificuldade pelo guarda-redes opositor, ou esbarrando na porfiada defesa trofense. A inépcia atacante teve hoje o seu momento de esplendor, quase como se alguma maldição pendesse sobre os artilheiros vestidos de azul.

Racionalmente, não esperava nenhum golpe de génio vindo do banco. Os coelhos, saídos milagrosamente das cartolas, apenas aparecem em espectáculos de magia. O Porto não tem plano B, quando a situação do encontro obriga a mudança de planos. No esquema táctico do técnico portista as substituições estão encontradas, desde há muito. O fetiche por Mariano [a defesa-direito, com a passagem de Fucile para o flanco oposto, pouco acrescentou, sendo várias vezes ultrapassado com facilidade por Tiago Pinto], a entrada de Guarin e, nos instantes finais, o recurso a um descrente Farías, sinal de que o desespero já tinha tomado as rédeas da partida. Não existe espontaneidade, uma leitura de jogo diferente. Nada. Apenas o velho e bom esquema, inalterado, partida a partida.

Um balde de água fria, bem gelada, abateu-se sobre os indomáveis que resistem a temperaturas quase glaciares para apoiar os seus heróis. O tempo dirá quanto valem estes dois pontos, hoje desperdiçados de forma tão inconcebível. Fica no entanto uma mensagem de esperança. Em quem nos deu já tantas alegrias. A próxima jornada, tremenda, criará um embate de titãs, perante um contendor minhoto com recursos que colocam em sentido os seus adversários. Será preciso um Porto bem mais acutilante do que hoje, mortífero na finalização, para que novo desaire seja evitado.

Melhor do Porto: Rodriguez. As armas usadas são já conhecidas. Litros de suor, que empapam o algodão da camisola. Raçudo, imagem de marca, quase como uma segunda identidade, procurando amiúde rebentar com a resistência alheia. Criou jogo e lances suficientes para que o epílogo tivesse um final alternativo, mais consentâneo com os nossos desejos. Foi indomesticável, acreditando que era possível vencer, mesmo até ao derradeiro silvo do árbitro. Merecia ter sido feliz. Esteve quase, em descontos, quando o seu remate se encaminhava para as redes desertas. Guarín fez o “favor” de estragar tudo, desviando o esférico…

Arbitragem: Ponto prévio, para evitar polémicas avulsas. Não foi pela arbitragem que o Porto desperdiçou dois pontos preciosos. Nunca esse argumento será utilizado como arma de arremesso, justificando incapacidades próprias ou camuflando a falta de sorte. Mas custa-me ver que os critérios são diferentes, em lances idênticos. E mais não digo…

ps: Logo e artigo publicados originalmente no Bibó Porto.

4 comentários:

Anónimo disse...

“Os investimentos na arbitragem e nalguma comunicação social começam a dar frutos. Verdadeira vergonha aquilo que se passou na Luz e desta vez está demonstrado perante a evidência. E não há desculpas do trio de arbitragem que tem altas responsabilidades”.

Paulo Abreu Grupo Stromp no record

dragao vila pouca disse...

Continuo a pensar o mesmo: contra estas equipas temos de ganhar, apesar do árbitro e assim...

Mais do mesmo: equipa sem chama, sem crença, incapaz de colocar em campo a vontade e o espírito necssário para ganhar e manter a liderança.
Treinador medricas, tolhido pelo medo, que sabendo como o Trofense vinha jogar foi incapaz de ser ousado, arriscar, meter a carne toda no assador...não resolveu jogar com o Benítez, que não consegue passar a bola em condições com a mãos, quanto mais com os pés.
Erros do árbitro?! Falta de sorte?!
Foi a arranjar estas desculpas, para não ganharmos a equipas como o Trofense, que chegamos ao topo do futebol Europeu e Mundial? Não, não foi! Foi com ousadia, com valentia, com coragem e sem medo de nada...quem não for capaz de perceber, isto está no clube errado!
2 pontos perdidos com o R.Ave, + 3 com o Leixões, + 3 com a Naval, + 2 com o Marítimo, +2 com o Trofense.
Porquê? Porque somos uma equipa de contra-ataque - agora pomposamente chamado de transições rápidas - e que tem muitas dificuldades em jogar contra equipas fechadas que não saem para jogar. Este é o problema e tem sido o problema...o resto são desculpas esfarrapas, à boa maneira dos nossos rivais lisboetas.
Será que nem contra estas equipas temos um jogo calmo e tranquilo?
Um abraço

Anónimo disse...

Antes de tudo, estimado e grande triste pereira, desejo-te um bom ano e que continues em grande com as tuas "excelentes" crónicas...força com isso...
e desculpa, não ter desejado boas festas....é que ao contrário de ti, meu pequeno triste pereira, não destilo ódio....e desejo que os meus adversários sejam felizes, mas menos felizes do que eu...capice triste pereira!

Ora bem, passando ao que interessa...

a azia já passou? ou estavas à espera que os da trofa abrissem as pernas??? como gostava o teu professor pardal...??

toma um kompensam que isso passa...
cumprimentos e até à proxima carissimo triste pereira!!!

Paulo Pereira disse...

lol...azia? Quem padece desse mal és tu, meu grande anormal...

A ver pela tua ausência, os inêxitos sistemáticos da tua equipa têm-te provocado urticária. Ou nÃO?

Terei que te relembrar da patética experiência sofrida por essa corja de ladroões na UEFA, onde ficou demonstrado o vosso nível? Ou a eliminação da Taça de Portugal?

Meu caro, és como um náufrago, agarrado com desespero à boia de salvação chamada campeonato. E, quando essa vos falhar, aposto que deixas de aparecer por aqui, tal como recentemente.

Vai uma aposta?

ps: Vê se emagreces um pouquinho. Tás gordo k nem hum chibo