25 de janeiro de 2009

Ensaio sobre a Cegueira - a sequela

Já tinha caído a noite, há muito. A casa, silenciosa, era vergastada pelo vento que soprava forte. O silêncio era apenas recortado pelo barulho do soalho, estalando regularmente. O homem, deitado com as mãos debaixo da cabeça, aguardava com impaciência.

Ao fim de uns minutos levantou a cabeça, cautelosamente. A respiração profunda da companheira indiciava aquilo que ele desejava: tinha finalmente caído no sono. Sibilava, quando inspirava profundamente, o que a fazia ressonar ao de leve. Levantando-se com cuidado, o homem ficou parado, por instantes, olhando com carinho para a sua mulher, admirando o perfil recatado, a pele suave, ligeiramente manchada pela idade.

Vestiu o roupão, estremecendo de frio. Apressou-se a descer as escadas, avançando na penumbra, conhecedor do caminho, trilhado amiúde às escuras. Entrou no seu santuário, onde crepitava um fogo na lareira, acolhedor. Acendeu as luzes, deixando que o brilho incandescente se derramasse nos aposentos. O escritório, profusamente decorado com livros, em todas as paredes, encontrava-se atapetado com uma alcatifa escura, fruto da mente decorativa de Pilar. Saramago sorriu, com benevolência, ao recordar o porte majestoso da esposa. Sentou-se atrás da sua secretária, uma imensa peça de mogno trabalhado, escura, onde o computador piscava, provocante. Suspirou. Adorava aquele recanto, onde tinha congeminado a maioria das suas histórias. Ali, na vulcânica Lanzarote, tinha encontrado a paz.

Abriu uma das gavetas, retirando o seu tesouro. Um Cohibas, cubano de excelência, enviado pelo próprio Castro, anos atrás. Aspirou o seu formato, inebriando-se com o aroma adocicado. O médico tinha-o proibido de fumar, de forma determinada. E Pilar, a doce amada, seguia à risca os conselhos, quase como um sargento da Gestapo, vigiando-o como um falcão. Acendeu o charuto, dando uma baforada de forma prazenteira. Aproveitou o momento, deixando que a coluna de fumo subisse, lentamente, até ao tecto.

Sentia-se inquieto. Precisava de escrever. Algo pulsava no seu interior, como possuindo vida própria, incitando-o a debitar palavra após palavra. Tinha apenas um problema. E dos grandes. Estava sem ideias. A inspiração, cruel, tinha-o deixado, depois do prazo esgotante da sua última publicação.

Navegou na internet, inteirando-se das notícias mundanas. Seguia atentamente tudo o que se passava no Mundo, em geral, e na sua Pátria, em particular. Os olhos brilharam, maliciosos, ao passarem sobre os jornais desportivos lusos. A génese de uma ideia começou a germinar, no mais recôndito do seu cérebro.

Ele já tinha a concepção de que necessitava para a sua nova obra. Febril, debruçou-se sobre um caderno velho, escrevinhando furiosamente tópicos. Pela primeira vez, na sua carreira, escreveria uma sequela. Ensaio sobre a Cegueira, parte 2. Uma versão mais soft, provavelmente, mas partindo da reflexão do livro original.

A cegueira. Abatendo-se impiedosamente sobre um homem, de início. Quase como se o Destino o quisesse castigar, num ajuste de contas privado. Aquela figura rubicunda, baixa e untuosa, parca em cabelos, que chefiava a Liga de Clubes, era o portador do flagelo. Inexplicavelmente, vê-se afectado pela praga, a cegueira branca, com os olhos cobertos de uma superfície leitosa, impedindo-o de ver o Mundo ao seu redor. Contagiosa, a doença rapidamente se espalha ao resto do edifício, colocando os seus ocupantes numa espécie de quarentena. Os gritos dos seus subordinados ecoam nos tímpanos de Hermínio Loureiro. “A Taça… a Taça do Campeonato… não sabemos onde está…”. Hermínio, sentado na sua poltrona, arrepia-se com o provável escândalo. Tem campeão, mas não tem taça para lhe entregar. Em pânico, levanta-se repentinamente, apenas para esbarrar num móvel. Uivou de dor…

Saramago sorri, descansando por momentos. O primeiro esboço agrada-lhe. Puxa mais uma fumaça do charuto, recostando-se na poltrona. Olha pela janela, imaginando o resto.

A cegueira, conhecida como martírio branco, continua a espalhar-se, aparentemente de forma aleatória. Em Guimarães, num banal encontro futebolístico, afecta o árbitro do encontro, num momento crucial, impedindo-o de ver uma grande penalidade clara, cometida por Maxi Pereira, sobre um jogador da casa. O erro, capaz de por si só de toldar a racionalidade dos espectadores, não provoca qualquer tumulto. No banco da equipa da casa, rindo-se alarvemente, o treinador dos vitorianos nada vê, fazendo comunhão espiritual e física com o árbitro do encontro. Cegos.

O Nobel da literatura passa a mão pela testa, sentindo o cansaço a acumular-se. Ainda pensa em regressar ao conforto dos lençóis, para repousar o corpo fatigado. Mas abandona a ideia. Não conseguiria adormecer novamente. Não agora, que sente a escrita a fluir-lhe nas veias, impante de vontade.

O fenómeno, preocupante, alastra-se cada vez mais. Uns dias decorridos, e a estirpe mais grave da doença ataca em pleno Estádio da Luz. Paulo Baptista, visualmente são, ao entrar no campo relvado, antes do início da contenda, comete uma série de pecadilhos quase obscenos, num claro favorecimento caseiro. No final, quando interpelado pelo treinador bracarense, o árbitro e os seus auxiliares apoiam-se mutuamente, avançando às cegas, enquanto murmuram em transe: “estamos cegos.. estamos cegos… não vimos nada…”. Jorge Jesus limita-se a abanar a cabeça e a olhar para os céus, impotente.

Saramago relê o que tinha acabado de escrever, rindo com vontade. A sequela do seu best-seller serve para acertar contas com o desporto-rei, do qual sempre se mostrou alheado. Mas sente que tem ali matéria-prima. Suspira, voltando ao trabalho.

As bancadas imponentes do Dragão, habituadas aos cânticos de exaltação clubista, mostram-se estranhamente silenciosas. No seu seio, a multidão que se acotovela, olha para o terreno de jogo, incrédula. Praticamente todos tinham já ouvido falar do fenómeno que atormenta o País, essa cegueira congénita. Não esperavam, no entanto, que o seu momento de lazer fosse, de alguma forma, estragado pelo seu aparecimento. E aquele empate, a zero, perante um inofensivo Trofense, apenas pode ter sido motivado pela praga. Um golo mal invalidado. Um penalty claro, perdoado quase no ocaso da partida. Teriam sido erros deliberados? Acidentais? Ou fruto da cegueira? Aparentemente conformados com a explicação última, abandonam ordeiramente o recinto, amaldiçoando a doença…

Absorto, Saramago escreve agora a um ritmo intenso, apenas parando para virar as folhas do caderno.

A onda de cegueira alastra-se ao Norte do País, provando que geograficamente ninguém fica impune ao seu aparecimento. Em Vila do Conde, terra piscatória, onde o ar transporta consigo o odor mágico da maresia, um monumental fora-de-jogo, no Estádio dos Arcos, é deixado passar, permitindo a vitória dos lisboetas de listas verdes e brancas. Com tranquilidade, os três preciosos pontos são somados ao pecúlio já existente, deixando os dirigentes leoninos a assobiar para o alto. O juiz de campo, com o vil protagonismo a cair-lhe em cima dos ombros, entrou de quarentena, novel vítima da cegueira total.

Saramago ajeitou os óculos, resolvendo limpar as lentes, permitindo que as suas ideias se ordenassem, no meio da confusão criativa que pairava na sua mente. Continuou…

Apesar dos ecos de indignação, com o descontentamento a sair do estado latente, ninguém encontrava forma de colocar um ponto final na praga. O antídoto para a cegueira, ainda não encontrado, deixava uma parte da população a fermentar em cólera. Até que o momento da catarse chegou. Numa tarde solarenga, dicotomia perfeita entre a alegria que os raios de sol prometiam oferecer, e o desvirtuamento de mais um resultado desportivo. Num derby da capital, a equipa vinda de Belém assiste, aturdida, à anulação caprichosa de um golo, sonegando um justo empate. Vendo a ira que se levantava em seu redor, dado que ao golo invalidado se unia uma penalidade roubada descaradamente aos atletas da cruz de Cristo, o homem do apito deitou as mãos aos olhos, rebolando-se no relvado, enquanto gritava a plenos pulmões: “não vejo nada… não vejo nada…”. O álibi da cegueira, desta feita, não surtiu o efeito desejado. Como um rastilho que arde, lenta mas inexoravelmente, os puristas do futebol como desporto-rei, limpo de livres arbítrios, uniram-se de forma aparentemente desconexa, mas funcional. A revolta estalou, um pouco por toda a parte. De Norte a Sul, passando pelas Ilhas, já não envoltas em nevoeiro, um interesse altruísta falou mais alto. Os escribas venenosos dos pasquins foram colocados em navios, forçados a um exílio prolongado, bem longe de solo luso. O desmoronamento cívico da sociedade, fermentado na crise económica que grassava por toda a parte, atinge o ponto de saturação. E nada mais voltou a ser como antes…

O escritor faz nova pausa. Sente os músculos do pescoço doridos, protestando com o excesso de horas em tensão. A pele macilenta reflecte o esgotamento, que o deixa quase prostrado na cadeira. Tem um último assomo. Para terminar…

Passaram-se vários meses, depois da revolta popular. A paz regressou. O País, abençoado pela ausência de défice, com o desemprego a atingir os níveis mais baixos de sempre, regurgita de entusiasmo. É um povo alegre, que ri livremente, liberto de espartilhos. O medo foi afugentado. O futebol, depois de bater no fundo, começa a merecer a atenção dos seus adeptos, que aplaudem extasiados os jogos. Para esse contentamento, contribuíram as medidas tomadas. Jogos à tarde, bilhetes a preços simbólicos, árbitros não obrigados a pertencerem ao clube dos 6 milhões. Uma transformação radical que operou uma metamorfose na face do jogo. Tudo mudou. Bem, nem tudo. Apenas uma coisa permaneceu imutável. Umas gloriosas camisolas, rasgadas de cima a baixo com listas de um azul forte, contrastando com o branco que as pintalgava, continuaram a passear a sua classe, em solo pátrio e no velho continente. O seu símbolo, um Dragão flamejante, usado nas ruas, por uma inteira geração de crianças, sorrisos estampados no rosto, venerando a sua paixão.

Saramago espreguiçou-se. Tinha finalmente terminado. Bocejou, incapaz de controlar o sono. Ainda se ergueu, mas depois parou. Faltava algo. Uma sensação premonitória de que a obra, assim, não tinha o final perfeito. Matutou por instantes. Tornou a sentar-se. Acrescentou mais umas linhas. Sorriu ao lê-las. Agora sim, era um THE END irrepreensível.

Um caminhão decrépito avançava, roncando furiosamente, na estrada poeirenta do Alentejo. As chapas, protestando com vigor em relação à velocidade, provocavam uma chinfrineira assustadora. Ao volante, com uma camisola de cor indefinida, repleta de pequenas nódoas de gordura, o motorista afagava o bigode, enquanto palitava uma das descomunais orelhas com o dedo. No pára-brisas o nome, estampado em letras irregulares, num cartão amarelado. LUIS FILIPE. Na lona que cobria a traseira, em letras garrafais, o cartão de apresentação da empresa: “PNEUS VIEIRA, TUDU O QUE NESSESSITA PARA O SÉU AUTUMÓBELE”. Sorria beatificamente, enquanto enxotava duas moscas. Na traseira, afadigados em arrumarem a carga de pneus em mau estado, os seus dois novos ajudantes. O pequenino e atarracado amigo de longa data, Hermínio de nome próprio, e o Rui, rapazinho por quem nutria enorme estima, contratado para dirigir o departamento de cobranças duvidosas.

10 comentários:

Anónimo disse...

24/07/2008 FUTEBOL
Depois de rescindir contrato com o clube
"O FC Porto sempre me tratou bem", diz Paulo Assunção
Alegou a chamada "Lei Webster" para rescindir contrato com o FC Porto em Maio passado, vinculando-se pouco depois ao Atlético Madrid. Porém, Paulo Assunção garante que sempre se sentiu muito bem no clube "azul-e-branco", ao qual assume que deve muito da sua evolução enquanto futebolista.

Porquê então alegar a polémica lei que permite a um jogar ficar livre após três anos num clube desde que tenha mais de 28 anos? A resposta de Paulo Assunção, em entrevista ao diário espanhol As: "Levava quatro anos no FC Porto e podia recorrer a esta lei e foi isso que fiz. Falei com o meu representante e entendemos que tinha de fazer o melhor para mim. Tenho 28 anos e possivelmente estou no melhor momento da minha carreira. O meu objectivo é ganhar títulos numa Liga nova como a espanhola e ter novas experiências".

De qualquer forma, fica as plavras elogiosas para com o FC Porto: "Sempre me tratou bem, sobretudo os adeptos e os companheiros. É um clube ao qual devo muitas coisas e terá sempre o meu carinho. Deixei lá muitos amigos, mas não me sinto em nenhum momento obrigado com o clube".

Anónimo disse...

Paulo,

Parabéns pelas tuas prosas. Percebe-se que tens uma escrita superior à média.

Tenho uma dúvida. Este blogue existe devido à tua participação no blogue do Blue Boy ou a tua particapação no blogue do Blue Boy existe devido à existência do teu blogue?

Paulo Pereira disse...

Boas,

É a 2ª hipótese aventada. Já existia este blogue, quando o Blue me convidou a escrever no Bibó Porto. Aliás, convidou entre aspas. Participei num "casting", chamemos-lhe assim, para poder entrar.

Abraço,

dragao vila pouca disse...

O Saramago à beira do Paulo é um aprendiz de feiticeiro. Nem sabe colocar as vírgulas...
Essa do casting não se admite.

Um abraço

Anónimo disse...

Caso "calabote" I;II e III a não perder no blogue ReflexãoPortista

Bruno Pinto disse...

Paulo,

Soberbo. Apenas e só.

Anónimo disse...

Olá Paulo ,

eu encontrei há pouco tempo na internet a sua página sobre futebol e outros http://mundoazulebranco.blogspot.com/ e gostaria de apresentar então o seguinte site: www.futebol.pt e as vantagens deste.

Um pouco mais sobre a página:

Em www.futebol.pt você encontra informações sobre o tema futebol nacional e internacional, assim como resultados de jogos, notícias e actualizações. Você encontra ainda dados detalhados de equipas portuguesas e do mundo todo, dados sobre competições como UEFA Cup e Champions League, além de poder gerar discussões a respeito deste desporto no Fórum.

Visite você mesmo nosso site www.futebol.pt e veja tudo o que o site oferece.


Caso haja interesse, gostaria de saber se existe possibilidade de inserir um link de www.futebol.pt no seu site.

Agradeço pela cooperação e aguardo respostas.

Melhores cumprimentos,

Cristina Fujiname

Paulo Pereira disse...

Cristina,

Já lá está o link.

Abraço,

Anónimo disse...

Livre conduto para denegrir o FC Porto
«Os Donos da Bola reflectem muito aquela curiosidade pacóvia que temos quando paramos a ouvir uma conversa de peixeiras ou quando se organiza uma enorme fila de carros que pára na estrada só para ver os mínimos estragos de um simples toque de dois veículos. (...)
Misturam-se também, neste programa semanal, outras coisas bem menos felizes: relembro a entrevista da semana passada, de José Manuel Mestre ao secretário-geral da UEFA, Gerhard Aigner, em que se tentava conduzir a entrevista conduzindo o entrevistado com perguntas canhestras como "Sabe que o Sr. Pinto da Costa insultou dois árbitros no ano passado?". Aigner é raposa velha e, com um indisfarçável ar de enfado, foi-lhe respondendo educadamente. Fazia lembrar François Mitterrand, que no primeiro septanato na Presidência da França, chamou um dia a Giscard d'Estaing "le petit telegraphiste", porque este andava pela Europa a fazer queixinhas do Presidente do seu país.»
Manuel Queiroz, PÚBLICO de 01/12/1996


Alguém na RTP lembrou-se de enviar um jornalista a Madrid para fazer uma entrevista ao ex-jogador do FC Porto Paulo Assunção a qual, pela forma insidiosa como foi conduzida e pelas perguntas canhestras que foram feitas, me fez recordar a entrevista de há 12 anos atrás de José Manuel Mestre (jornalista da SIC) a Gerhard Aigner.

Estranhamente (ou não) a entrevista, conduzida (e de que maneira!) pelo jornalista Hélder Conduto, não teve qualquer pergunta sobre o actual clube de Paulo Assunção, sobre a adaptação do jogador a uma nova realidade (cidade, país, clube ou campeonato), ou sequer sobre o desempenho do Atlético de Madrid e as perspectivas dos colchoneros para esta época.
Não, o interesse do jornalista da RTP era outro. Queria que o jogador dissesse porque razão não tinha renovado pelo FC Porto.

Ora, conforme é público, o processo da renovação do médio-defensivo brasileiro arrastou-se durante toda a época 2007/08, com o jogador a recusar as sucessivas propostas que a FCP SAD lhe fez. De forma resumida, relembremos o que aconteceu nos últimos meses da época passada.

Em 2 de Fevereiro de 2008, após a vitória (4-0) sobre o U. Leiria, Paulo Assunção foi confrontado com os rumores que havia na comunicação social, sobre a possibilidade de abandonar o FC Porto mediante o pagamento de uma indemnização equivalente ao valor dos seus salários até ao final do contrato. O jogador afastou liminarmente esse cenário afirmando:
“Também vi isso nos jornais, que posso sair pagando os salários, mas o meu empresário está a falar com a direcção do FC Porto.
A minha vontade é ficar aqui, mas ainda não há acordo. Eles [FC Porto] estão a apresentar uma situação boa para eles, eu estou a apresentar uma situação que seria boa para mim.
Interesse de outros clubes? Só sei pelos jornais, tenho contrato até 2009 e quero ficar aqui.”

Em 23 de Fevereiro de 2008, após a vitória (3-0) sobre o Paços de Ferreira, Paulo Assunção voltou a negar a existência de contactos com outros clubes e afirmou:
“Como está a minha renovação? Confirmo que o meu empresário está a falar com o FC Porto e que o processo está em marcha. Estamos na fase das negociações”.

Perante as sucessivas recusas do jogador às propostas de renovação que a SAD portista lhe ia apresentando e aos rumores, cada vez mais fortes, de que o jogador ia rescindir o contrato recorrendo à lei Webster, em 13/03/2008 o seu empresário – Ilson Visconti – veio a público reconhecer que o médio brasileiro estava a ser aliciado para rescindir contrato com o FC Porto no final da época.
“É verdade que têm surgido muitos empresários a propor essa saída ao Paulo. Ele foi aliciado para rescindir com o clube no final da época, pedem-lhe para fazer isso, mas o jogador quer ficar”.

No dia 22 de Abril de 2008, O JOGO publicou uma notícia onde refere:
«Paulo Assunção tem contrato com o FC Porto até 2009 e os portistas pretendem prolongá-lo até 2012, intenção que tem encravado nas exigências do jogador, consideradas pouco razoáveis pela administração da SAD. Paulo Assunção é um dos elementos nucleares da equipa de Jesualdo Ferreira, mas não é internacional e já tem 28 anos de idade.»

Finalmente, e culminando aquilo que toda a gente já tinha percebido (o jogador não ia renovar porque tinha propostas de clubes estrangeiros que a FCP SAD não poderia cobrir), a 30/04/2008 a agência Lusa divulgou a seguinte notícia:
«Continuam as especulações da imprensa sobre o alegado assédio do Atlético de Madrid a jogadores portistas. Depois de Raúl Meireles e Lucho González, a imprensa desportiva fala em Paulo Assunção, atestando que os responsáveis do emblema madrileno perguntaram à SAD portista o preço do passe do jogador.
O processo de renovação de Assunção com o Porto prossegue sem acordo e diz-se que o brasileiro solicita um aumento desmesurado no salário para prolongar o actual vínculo que se prolonga até ao fim da próxima época.»

Há muito que se falava no Atlético de Madrid como estando por trás das sucessivas recusas do Paulo Assunção em renovar o contrato, mas esta noticia da Lusa, de finais de Abril, veio clarificar a situação.


Eu percebo muito bem que em vésperas de vir ao Estádio do Dragão, dê jeito ao jogador dizer que não renovou por causa do episodio das ameaças que lhe foram feitas à saída de um treino. Contudo, há um pequeno “pormenor” que desmente esta versão. Este incidente ocorreu em 15/05/2008, numa altura em que já era público que o jogador ia rescindir o contrato porque tinha quem lhe pagasse mais (até os nomes dos clubes interessados eram do domínio público).

Sendo isto mais que óbvio (há enumeras noticias da altura que o confirmam), porque razão a RTP enviou um jornalista a Madrid cujo único propósito pareceu ser reescrever a história, ignorando deliberadamente factos que tinha obrigação de conhecer?

Mais. No final da entrevista, o pivot do ‘Domingo Desportivo’, o mais famoso adepto do União Sport Clube Paredes - Carlos Daniel -, virando-se para António Tadeia comentou que as declarações de Paulo Assunção iam dar umas manchetes de jornais (sim, de manchetes anti-Porto percebem eles...).

Mas o que é que as declarações do médio brasileiro têm de novo para justificar manchetes?

Nada. A única coisa de novo é a contradição entre o que Paulo Assunção afirmou à RTP (“disseram-me que, se não renovasse até quarta-feira, levaria um tiro num joelho”) e o que tinha dito há um mês atrás, em entrevista a O JOGO (edição de 26/12/2008), em que disse que um grupo de adeptos que tinha assistido ao treino ameaçara partir-lhe uma perna.

De resto é uma notícia requentada, porque no próprio dia em que o incidente se verificou (há mais de oito meses!), a comunicação social deu conta do mesmo, tendo sido amplamente noticiado por televisões, rádios e jornais.

«Paulo Assunção, jogador do Futebol Clube do Porto, apresentou queixa na PSP, contra desconhecidos. O jogador contou à polícia que tinha sido ameaçado à saída do treino de terça-feira, por quatro indivíduos.
Os indivíduos aconselharam-no a assinar a renovação de contrato com o FC Porto nos próximos dois dias ou poderia sofrer consequências físicas.»
in SIC online, 15/05/2008 10:49

Por tudo isto volto a perguntar: o que pretende a RTP com este tipo de campanhas anti-FC Porto?
Competir neste "campeonato" com a TVI, 'Correio da Manhã', Record e 'A Bola', para ver quem conquista a maior fatia de simpatia entre os milhões de frustrados que odeiam os actuais Tri-campeões nacionais?

Relativamente ao jornalista Hélder Conduto, após ter trocado (em Maio de 2006) a TSF e a SIC pelo grupo RTP, tendo assumido a função de coordenador de desporto da estação pública, este benfiquista natural de Aljustrel mostra que tem ambição e que sabe qual é o caminho mais curto para chegar ao topo.

Parabéns Hélder, mais uma ou duas entrevistas destas e és promovido. Aliás, até já tenho uma sugestão para os anúncios da tua próxima entrevista:
«Exclusivo RTP. Saiba o verdadeiro motivo de Adriaanse se ter pirado do Porto».
Já imaginaram as manchetes bombásticas que uma entrevista com o holandês podia dar?
Até já estou com água na boca... É desta que vamos entalar o Pinto da Costa!

"reflexãoportista"

bLuE bOy disse...

É verdade VilaPouca... essa do «casting» não lembra a ninguém, fosgasse :D

Se soubesse na altura o que sei hoje, esta do casting, soava era a provocação... o que não foi de todo o caso.

O Paulo é um mestre na arte da escrita e mai'nada!!!