25 de novembro de 2008

Um clã


E pronto. Um ponto final, rotundo, na história da crise. Pelo terceiro ano consecutivo o Porto garante o apuramento para os oitavos-de-final da Champions. A uma jornada do fim. Noutras latitudes, o feito seria digno de encómios, provocando uma avalanche de elogios, com a turba a festejar ruidosamente o objectivo alcançado.

Na Invicta apenas e só um mero sorriso nos lábios. Aquela reconfortante sensação de dever cumprido. Só. Nada de euforias. De gestos exultantes. Uma postura cordata, de quem sabe o que vale. Hoje, tal como em Kiev. Ou em Londres.

O tricampeão nacional reagiu à adversidade. Levou um soco. Brutal. Derrotado e humilhado na capital da velha Albion, não teve tempo para lamber as feridas. Ouviu invectivas, insultos e apupos. Dos outros, estava habituado. Dos seus, estranhou.

Ao primeiro impacto seguiu-se outro. Duro. Derrota num bastião que se julgava inexpugnável. Em pleno Dragão, soçobrando perante a frieza do Dinamo de Kiev. Sem tempo de respirar, quase como se vivesse afogado num pesadelo interminável, sofreu novo desaire. Leixões. E ainda outro. Naval.

Chegou-se ao ponto culminante da temporada. Era ali, naquele momento, que a galhardia do Porto teria que vir ao de cima. E aquelas camisolas azuis e brancas enfrentaram as adversidades. De forma corajosa. Indómita. Quase como os Descobridores cantados por Camões. De peito feito.

Sofreram, mas venceram. Na gélida Ucrânia. Lutaram até à exaustão, enfrentando demónios interiores, em Alvalade. Tocaram o hino da Champions à turba vinda da cidade Berço. Só para eles imaginarem como seria. Jogar assim. Numa competição destas.

E hoje, na Turquia, foram ENORMES. Um jogo a roçar a perfeição. Um Porto à moda antiga. Coeso. Solidário. Transcendental. Cirúrgico. Implacável.

Lisandro voltou às grandes noites, silenciando o inferno otomano. Fucile demonstrou como deve jogar um lateral. Raçudo. Intransponível. Meireles foi um digno comandante. Apaziguador. Cerebral. Trabalhador. Tomas Costa o perfeito escudeiro. Tacticamente exemplar. Helton seguro. Frio. Glacial.

Rodriguez, mesmo sem continuar a encontrar o caminho da felicidade, usou as suas armas. Velocidade mesclada com transpiração. Raça misturada com orgulho. Mais do que uma equipa, o Porto foi um clã.

Venceu. Com inteira justiça. Lutando, porque nada lhe é oferecido. Sofrendo, porque só assim o gosto da vitória tem este sabor. Adocicado.

E amanhã uma parte do País vai acordar com uma sensação de mal-estar. Algo indefinido. Quase como se pressentisse uma tragédia. Uma calamidade. Os sorrisos já não serão tão largos. Tão expansivos. NÓS ESTAMOS DE VOLTA! E O MEDO REGRESSOU...

ps: logo do jogo gentilmente cedido pelo Bibo Porto. Thanks!

3 comentários:

dragao vila pouca disse...

A crónica da morte do F.C.Porto, era, como se viu, manifestamente exagerada.
Passado o período de crise, com origem, no alfaiate de Mirandela, que pareceu desorientado, a equipa portista conseguiu encontrar-se e em dois jogos decisivos, ainda por cima, fora de casa, ganhou e atingiu o objectivo de chegar aos oitavos-de-final.
Ontem, como em Kiev, o F.C.Porto conseguiu um bom jogo, com uma exibição globalmente, muito conseguida, melhor na 1ª parte que na 2ª, mas e porque mais uma vez - isso tem que ser melhorado -, não soubemos matar o jogo e mais uma vez, sofremos um golo esquesito.
Também acho que já podemos concluir: esta equipa tem carácter, tem crença, tem alma e ao contrário do que muitos apregoavam, tem qualidade.
Agora que as coisas parecem encaminhas, vamos atacar a Liga portuguesa, pois queremos e temos capacidade para isso, ganhar o tetra.
UM abraço

bLuE bOy disse...

Paulo, ler os teus escritos é de chorar... e pedir mais!!
Obrigado pelo aumentar exponencial do Orgulho Portista que sinto ao ler os teus escritos... mto obrigado.
aBrAçO,

Sérgio de Oliveira disse...

Paulo :

...E não é que senti nas pessoas (em StªMaria da Feira )esse tal
mal - estar de que falas ?

Acho que caíram " na real " .
Mas que grande desilusão !


Abraço