26 de setembro de 2008

Lar, Doce Lar...

LIGA SAGRES - 4.ª JORNADA

FC PORTO, 2 -P. FERREIRA, 0
[meireles, aos 14 e hulk, aos 73]
Estádio do Dragão, no Porto

Hora: 21:15
Árbitro: Hugo Miguel (Lisboa)

EQUIPAS OFICIAIS

FC PORTO - Helton; Sapunaru, Rolando, Bruno Alves e Lino; Tomás Costa, Fernando e Raul Meireles; Lisandro, Farías e Rodríguez.
Treinador: Jesualdo Ferreira.
Suplentes: Nuno, Pedro Emanuel, Benítez, Guarín, Mariano, Hulk e Candeias.

P. FERREIRA - Cássio; Ricardo, Ozeia e Tiago Valente; Filipe Gonçalves, Pedrinha, Filipe Anunciação, Paulo Sousa e Josa; Leandro Tatu e Cristiano.
Treinador: Paulo Sérgio.
Suplentes: Coelho, China, Chico Silva, Edson, William, Rui Miguel e Dedé.

Não há nada como o regresso a casa, depois de uma epopeia mal sucedida. Território conhecido, propício a “lamber” as feridas de guerra, contando com o apoio incondicional dos adeptos, o Dragão sempre funcionou como um bálsamo, curando maleitas…

Depois do semi-desaire na curta deslocação a Vila do Conde onde, mais do que o resultado, foi a exibição que provocou um pequeno terramoto de indignação, os Dragões jogaram pela 2ª vez no seu reduto, nesta Superliga 2008/09. O contendor, apesar de não possuir um nome daqueles de fazer abrir a boca de assombro e levar invariavelmente a um entreolhar de preocupação das sobrancelhas, é um adversário digno de registo, apesar do saldo invariavelmente positivo no confronto directo, favorável aos azuis e brancos.

A semana antecedente ao jogo serviu para que o termo “crise” surgisse estampado nas páginas da imprensa. Ao início, de forma tímida, quase envergonhada. Depois, mais afoito, quase como se a dita crise fosse uma realidade visível e inquestionável no reino de Jesualdo. Não é. Por muito que queiram transformar este início de campeonato, com o recurso estafado às estatísticas, numa maratona de percalços.

Decorridas míseras três jornadas, apenas um resultado custa a engolir. O empate frente ao Rio Ave. E, mesmo esse, buscando o histórico existente nas deslocações a essa Vila do Conde madrasta, pode ser considerado normal. De resto, vitória sem sobressaltos frente ao Belenenses [e sem a necessidade de validação de golos irregulares, como o vigente comandante da Superliga necessitou] e um empate em casa de um pretenso rival directo.

Quem, neste desfolhar de resultados, consegue achar que os pupilos de Jesualdo estão numa depressão competitiva, está claramente de má fé ou, em alternativa, percebe tanto de bola como a Leonor Pinhão.

O prenúncio de mudanças, na equipa titular do Porto, era um dado adquirido. Mesmo sem a necessidade irritante de poupanças, face ao próximo confronto europeu, a disputar na chuvosa capital inglesa, a massa associativa [não confundir esta com a massa assobiativa] exigia alterações. E Jesualdo fez-lhes a vontade. Desde logo, abdicando do seu fetiche por Mariano Gonzalez, pouco merecedor, até ao momento, dos créditos concedidos.

A semana seguinte a um resultado menos positivo costuma ser fértil em notícias, análises e opiniões. Esta não fugiu à regra. A “fragilidade”, termo encontrado por alguns experts de pacotilha para definirem o Porto actual, serviu de mote ao ressuscitamento da questão do trinco. Aproveitando alguns para, sob o pretexto referido, lançarem nova onda de críticas veladas à política de contratações, procurou-se provar que os Dragões estão mal servidos na função em causa. Repito, ao fim de 3 jornadas. Fernando poderá ser um trinco de inegável valor. Poderá. Num futuro próximo. Tal como André, chegado ao coberto do anonimato no longínquo ano de 1984 mas, fruto da aposta feita na sua titularidade, rapidamente se tornando numa referência lendária na posição de médio defensivo. E Fernando vai cumprindo o seu tirocínio, dando o peito às balas, provando merecer envergar aquelas listas verticais azuis e brancas…

Esta equipa do Porto precisa de tempo. De calma. Para crescer sem sobressaltos. Com qualidade. Imune a críticas.Com Fucile e Lucho em gestão de esforços, amenizando algumas das viagens intercontinentais que fizeram ao serviço das Selecções, a incógnita morava no lado esquerdo da defesa: Lino ou Benitez. Votei no segundo. Jesualdo optou pelo brasileiro, com boas indicações nos últimos jogos.

A partida com o Paços trouxe também um regresso. O de Farías, aríete escolhido para derrubar a muralha vinda da capital do móvel.Foi, por isso, um Porto de ataque que saiu, lançado, mal soou o apito do árbitro. Com personalidade. Coeso, rápido, acutilante. Com vontade de limpar a imagem de equipa acomodada, deixada ao longo de uma hora em Vila do Conde. Futebol rectilíneo, direccionado à baliza adversária, procurando o golo redentor. Os avisos foram-se sucedendo.

Primeiro por Lisandro, esfaimado por sentir a adrenalina a percorrer-lhe o corpo, quando se vê a bola beijar as redes. Remate forte, aos 5 minutos, para uma defesa incompleta de Cássio, permitindo que Farías falhasse a recarga, a um metro da baliza. Estava dado o mote. O rolo compressor começava a funcionar, empurrando o Paços para uma defesa denodada…Até que, antes do primeiro quarto de hora, novamente Licha, provando que apesar do divórcio aparente dos golos continua com as qualidades intactas, serve na perfeição Meireles, num cruzamento atrasado para a entrada da área. Remate pronto e GOOOLLLLOOOO!

Se o jogo, até então, revelava ser de sentido único, a partir do tento inaugural o domínio tornou-se avassalador. Oportunidades de perigo a surgirem de forma regular, com Lisandro a falhar novamente uma, de forma clamorosa.Aos 27 minutos, felino, surge solto na área pacense, recebendo a oferenda de Raul Meireles, mas rematando de forma desastrosa. O futebol enleante, alicerçado numa elevada percentagem de passes acertados, com ambos os flancos a serem explorados, permitia aos azuis e brancos jogarem praticamente no meio-campo do opositor. Jogando de forma inteligente, procurando o erro do adversário, mostrando um nível de concentração competitivo exemplar, os portistas apenas falhavam na finalização.

O Paços, remetido a actor secundário neste aparente monólogo competitivo, raramente criava embaraços ao último reduto portista. Apenas Leandro Tatu, pequeno e belicoso, procurava arreliar os nervos aos centrais da equipa da casa. Jogo de sentido único, com o intervalo a testemunhar um mísero golo de diferença, algo injusto para o futebol praticado…E se o reatar das hostilidades não parecia ter modificado nada, apesar de uma ténue reacção pacense, Jesualdo resolve…inovar. De uma assentada, duas substituições. Já de si, algo estranho, atendendo ao perfil comedido e convencional de Jesualdo. Parecia uma prova de arrojo. Até se ver as placas. Aí, confesso, fiquei sem perceber nada. Saíram Sapunaru e Farías, noutra exibição sem nada de registo, para entrarem Candeias, o puto que parece ligado à corrente, e Guarin. Desde logo, uma dúvida. E que dúvida. Quem ficava à direita, no lugar do lateral romeno?

Como se tirasse um coelho da cartola, Tomas Costa desce para a lateral direita, numa prova de polivalência. E o Porto dominador da primeira parte acabou. Sem querer estabelecer qualquer correlação entre as substituições e a debácle exibicional verificada, as oportunidades de perigo, junto da baliza de Helton, foram avolumando-se. Por contraponto, o nível de jogo portista desceu desmesuradamente. A pique. Uma equipa novamente perdida, sem fio de jogo, intranquila, procurando desesperadamente encontrar um rumo.

Jesualdo apercebeu-se do perigo. Jogou novamente no risco. Como um profissional do poker. Retirou o infeliz Lisandro e meteu Hulk. Novamente no pior momento da equipa, o avançado com nome de super-herói era lançado para o terreno. E correspondeu. De forma cirúrgica. Lançamento notável, subida no terreno e depois, mostrando predicados para a função, aparecendo no centro da área, para receber o passe de Meireles. Era a sentença final na partida. O Dragão respirou de alívio…

Melhor do Porto: Claramente, Raul Meireles. Um golo, uma assistência e bastaria isso. Mas o médio português fez mais. Empurrou a equipa, batalhando como verdadeiro general naquele meio-campo, exemplificando a forma que a equipa deve adoptar. Com o mecanizado jogo portista órfão de Lucho, foi Meireles que transportou o estandarte.Uma palavra de apreço para a entrada de Candeias, transportando consigo a dose desejada de jovialidade e impetuosidade, despertando as bancadas, incentivando companheiros. Bravo míudo!Helton, pese o irritante vicio de afastar as bolas para a sua frente, causando calafrios indesejados, mostrou-se seguro entre os postes, com uma notável estirada aos 60 minutos, negando o golo do empate a Paulo Sousa.

Nos antípodas exibicionais, Farías continua a desperdiçar as parcas oportunidades que lhe são atribuídas. Apagado, apático, sem qualquer rasgo distintivo, tornou a ser uma presa fácil para os defesas contrários. Rodriguez, depois das promessas da pré-temporada, efectua o caminho inverso. Exibição decepcionante, estranhamente sem o fulgor físico que é uma das imagens de marca.

Arbitragem: Continua a saga. Jesualdo, inconformado com os constantes erros arbitrais, resolveu sair a terreiro em defesa do grupo de trabalho, mostrando a sua revolta. De pouco valeu. Um árbitro neófito, claramente equivocado no critérios disciplinares, permitindo o endurecimento da partida, numa série de flagrantes faltas sobre Hulk, não sancionadas. E, a partir daí, mais parecia um ringue da WWE, com golpes que fariam alguns dos seus profissionais corar de inveja…

6 comentários:

dragao vila pouca disse...

Vitória justa, indiscutível, mas com uma exibição fraquita.
Melhor claramente na 1ª parte que na 2ª.
Estamos na fase de comer sardinha, mas acredito que vamos chegar à lagosta, lá mais para a frente.
Helton, agora, vai ser o bode expiatório?
Com Tomás Costa está resolvido o problema da lateral direita da defesa.
Centrais razoáveis, melhor o B.Alves que o Rolando.
Lino, boa 1ª parte, belas combinações com Rodríguez.Pior na 2ª a baixar na fase que o Paços foi mais atrevido e ele precisou de defender, que é o seu calcanhar de aquiles.
Fernando, vai ser o Trinco!
R.Meireles o melhor para mim.Grande jogo, com 1 golo e uma assistência para outro.
Lisandro muito perdulário, apesar de abnegado.Com o Licha da época passada, tinha ganho todos os jogos do campeonato.
Farías uma nulidade.
C.Rodríguez, fez coisas muito boas e outras más. Começou bem, em grande mesmo, mas foi perdendo gás.
Candeias, apenas razoável, mas melhor que o também entrado Guarín, que jogou pouco.
Hulk muito bem.Quero vê-lo de início ao lado de Lisandro.
Para terminar:achei curioso que ontem, que estavamos aganhar e a jogar bem melhor que em Vila do Conde, Jesualdo a faltar ainda muito tempo para o intervalo, colocou a aquecer três jogadores.
Foi para espevitar, certamente. Em Vila do Conde não o fez.Conclusão: ainda se pode aprender aos 63 anos.
Um abraço

Sérgio de Oliveira disse...

Dragao Vila Pouca :

...Nunca é tarde para aprender !

Não creio que se aplique ao Professor (porque ele sabe que assim é).

Acho que é por medo
(ou falta de decisão)
para arriscar.


Abraço

Bruno Pinto disse...

Foi uma vitória justa, sem grande brilhantismo e com alguns períodos de futebol algo cinzento, que valeu essencialmente pela excelente entrada portista no encontro. Até ao belo golo apontado por Raúl Meireles, o caudal ofensivo azul e branco foi intenso e as jogadas nas imediações da área pacense sucederam-se. O FC Porto teve posteriormente novas oportunidades para dilatar a vantagem, das quais se destaca um falhanço de Lisandro, que continua muito perdulário neste início de época. Neste período de maior fulgor, Meireles foi o melhor elemento, comandando, na falta de Lucho, toda a organização ofensiva caseira, chegando perto da área adversária inúmeras vezes e assegurando a circulação da bola com sabedoria. Igualmente em bom plano estiveram Tomás Costa, Lisandro, Rodríguez e Lino.

A partir de determinada altura o FC Porto desacelerou e o jogo tornou-se monótono, lento e mal jogado. Esta quebra de qualidade prolongou-se pela segunda parte, razão pela qual o Paços conseguiu subir as suas linhas e ser mais incomadativo e pressionante, levando os portistas a falharem alguns passes nas transições e a jogar mais devagar. Helton sofreu então alguns calafrios, embora sem significado de maior. Os assobios fizeram-se ouvir nas bancadas do Dragão.

Sem nunca alterar o 4-3-3, Jesualdo Ferreira mexeu e bem na equipa, operando duas substituições em simultâneo que me pareceram totalmente acertadas. Candeias entrou para o lugar do inerte Farías - andou a dormir no relvado e, mais uma vez, não aproveitou uma oportunidade que lhe foi concedida -, o que fez Lisandro ocupar o centro do ataque. Sapunaru, displicente em alguns lances, justificou a saída, entrando Guarín para o miolo e gerando o recuo de Tomás Costa para lateral-direito. Por mim, nada a dizer, até porque Candeias se mostrou bastante activo (apesar de algumas perdas de bola) e Tomás Costa mostrou que pode ser uma alternativa bastante credível para jogar na lateral direita defensiva. Posiciona-se bem, é seguro em posse de bola e, não sendo muito rápido, tem bons pés e boa leitura, o que lhe pode permitir dar uma profundidade interessante ao flanco.

Mais tarde, a entrada de Hulk para o seu lugar de origem revitalizou a equipa, ao mesmo tempo que preservou Lisandro para o jogo com o Arsenal. O FC Porto partiu então para uma parte final um pouco melhor, com mais algumas oportunidades de golo e controlando mais calmamente os movimentos do Paços. Excelente golo do 'Incrível', a culminar uma magnífica combinação com Meireles.

Dragaoatento disse...

Paulo,já que não acreditas no Bolatti vê o meu "post" sobre este jogador.

Abraço

Anónimo disse...

Porto Canal comemorou 2 anos

Espero que este primeiro projecto de um canal regional sobreviva e, aos poucos, continue a consolidar-se.

No país mais centralista da Europa, é uma lufada de ar fresco haver um canal que não está sujeito aos ditames de perspectiva e opinião impostos pela "ditadura da capital".

29 de Setembro de 2008 19:51

Dragaoatento disse...

Paulo!

...Por isso, por muitos elogios que descubras sobre ele, na Argentina, não será por isso que Jesualdo o colocará a titular. Aliás, parece-me claramente que o loiro argentino é uma carta fora do baralho, longe das opções técnicas e provavelmente com a carta de alforria já assinada...

É a tua opinião que respeito,mas acho que estás a ser muito radical.
Na minha opinião o Profe está a queimar o ditocujo.

No jogo com o Rio Ave o Fernando,apesar de esforçado reconheço,fartou-se de meter água.Várias vezes se atrapalhou na recepção da bola a passe de colegas,sendo desarmado pelo adversário, e no entanto,se for preciso estás predisposto a conceder-lhe mais oportunidades!

Eu acho que se o Jesualdo insistir com o Bolatti e o animar psicològicamente,teremos ali um grande jogador e um bom profissional.
Quando o Jesualdo se interessa por um jogador,até consegue tirar bom rendimento dele.Tb se acontece o contrário,se por qualquer motivo não atina com o jogador...

Abraço

PS - O Postiga tb não valia nada para nós e por aquilo que o vi fazer já esta época no Sporting,conclui que é muito melhor que o Farias. No entanto foi dispensado ao Sporting.