
Demonstrou-o quando aterrou em Portugal, numa pose que misturava tiques de colonialista com alguma da lenda de D.Sebastião. Vindo das terras de Vera Cruz, após cruzar o Atlântico, o brasileiro apodado de “sargentão” trazia a lição bem estudada. Sabedor da todas as anedotas jocosas que por lá debitam sobre os habitantes da “santa terrinha”, S(o)colari resolveu vincar a sua personalidade, alimentando a fraticida guerrilha entre Norte e Sul, para gáudio da subserviente imprensa nacional.
Rapidamente elevado aos píncaros da glória, endeusado em quase todos os meios de comunicação social, o ego, já de si enorme, cresceu exponencialmente, revelando um carácter ditatorial, avesso a críticas e opiniões diferentes.
Tudo foi suportado por um Povo sem amor-próprio, que via esse paladino estrangeiro a comandar a batalha contra o maléfico senhor do Norte. Com os resultados a ajudarem, a adulação atingiu o ponto de não retorno, pese a regularidade com que alguns foram confrontados com uma personalidade mesquinha.
Foi pois com resignação, já sem a capacidade de alimentar polémicas, que assistimos a novos episódios rocambolescos. A agressão a um adversário deveria ter servido de prenúncio para o que restava do contrato. Mas não. Alguns ainda não se aperceberam que as mordaças, cirurgicamente preparadas durante meses a fio, estão bem presas. Por isso, qual o espanto com a reacção do pretenso comandante supremo das forças armadas lusas, quando confrontado com a inócua pergunta de “foi a sua vitória mais sofrida?”.
Eu não sei se terá sido. Mas como espectador, pese a relutância que ainda sinto em sofrer por um punhado de “prima-donas”, cheias de tiques de vedetismo, assisti com alguma apreensão ao desenrolar do confronto com os finlandeses. Todos aqueles que veneram o desporto-rei estarão vacinados contra resultados penalizadores, apesar do domínio do jogo. O 0-0, esse resultado que eleva as penalizações cardíacas para níveis perigosos, não se compadece com estatísticas. Um ressalto, um lance de bola parada, um momento de inspiração. Basta isso para vermos o sonho a esfumar-se por entre os dedos, como se o destino brincasse com os sentimentos.
A explosão de cólera, reveladora do temperamento biliar do brasileiro, foi apenas mais um triste episódio no reinado de Sua Alteza. A classe jornalística, cujo espírito corporativo se manifesta apenas em ocasiões mais inofensivas, não tardou a sair a terreiro para branquear o mau génio.
Vítor Serpa, numa pomposa carta aberta ao seleccionador, abriu as hostilidades. A ele logo se juntou o delfim Delgado, sempre pronto a manifestar a sua concordância com todos aqueles que, alguma vez na sua existência, se oponham ao potentado da Invicta. Acusações de falta de patriotismo ou de anti-nacionalistas foram rapidamente carimbadas, com a chancela oficial do “Pravda” tuga.
Prezo-me por pensar. De não procurar o politicamente correcto. Nacionalismos bacocos ou bandeirinhas a esvoaçarem em varandas nunca fizeram o meu género. Apraz-me ver que, apesar dos elevados índices de analfabetismo, o Povo começa treinar o pensamento livre. Assim, não é de estranhar a monumental assobiadela com que os garbosos atletas nacionais foram mimoseados em Leiria, na exibição fora de validade com que brindaram a frágil Arménia. Não estranha também a ausência de euforia nos festejos da qualificação. Os números não enganam. 5 empates e uma derrota frente aos principais adversários beliscam a supremacia esperada duma Selecção que tem a sorte de possuir alguns dos mais brilhantes executantes que actuam no futebol europeu.
Só quem viu na “santa terrinha” o seu El Dorado, e nos indígenas que a habitam um rebanho de ovelhas é que pode achar insultuosa a pergunta de “foi a sua vitória mais sofrida?”. Só mesmo o Príncipe de orelhas de burro e o seu séquito de admiradores, ansiosos por umas festinhas do dono!
3 comentários:
Paulo Pereira :
Por mais fiéis que atraia para a sua igreja , digo :
- Não me esqueço das provocações ao meu clube ;
-Não me esqueço que só não fomos CAMPEÕES da EUROPA por sua exclusiva teimosia e culpa .
-O BRASIL é a minha 2ª Pátria .
Admiro aquele fantástico país e tenho enorme estima pelo POVO brasileiro.
Desculpem a intromissão no futebol, mas quero alertar todo o nortenho para o ataque que a ANA se prepara para fazer contra o Porto.
Eles estão a colocar entraves à Ryanair.
O aeroporto do Porto arrisca perder a oportunidade de conseguir atrair, nos próximos sete anos, quatro milhões de passageiros da Ryanair. Tudo porque a ANA (empresa lisboeta que faz a gestão dos aeroportos) não se tem mostrado receptiva a fazer algumas cedências que permitam a criação de uma base daquela companhia aérea de baixo custo no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. A possibilidade de o Norte estar a "desperdiçar" uma oportunidade de desenvolvimento está a indignar políticos e empresários. O PSD/Porto vai pedir esclarecimentos ao Ministério das Obras Públicas "por suspeita de favorecimento do aeroporto de Lisboa". Não se calem; não deixem passar mais este ataque lisboeta contra o Porto.
Paulo, não gosto do Scolari enquanto pessoa e treinador, mas os resultados que ele alcançou pela Selecção Nacional foram do melhor que o país alguma vez viu e portanto ele tem esse crédito. Apesar da medíocre fase de qualificação, acredito e torço por um brilherete luso no próximo Verão.
Não é pelos vários desrespeitos de Scolari pelo FC Porto que vou ser contra tudo o que ele faz. Ele está talhado para as fases finais porque, apesar de ser limitado a nível táctico, sabe unir um colectivo como poucos. Oxalá não invente muito na convocatória e depois nos onze iniciais...
Apesar de tudo, após o Euro, independentemente do resultado conseguido, pode ir à vidinha dele...
Abraço.
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