24 de novembro de 2007

O Príncipe de orelhas de burro

“Pô, vocês pensam que eu sou burro, né?”. Pergunta retórica, dirão alguns, já com pouca paciência para as constantes diatribes de S(o)colari. “Se não é, parece…”, acrescentarão outros, com um sorriso malicioso a bailar nos lábios. Eu não. Não acho que o brasileiro que comanda os destinos da nossa Selecção tenha algo de burro. Muito pelo contrário. S(o)colari é bastante esperto.

Demonstrou-o quando aterrou em Portugal, numa pose que misturava tiques de colonialista com alguma da lenda de D.Sebastião. Vindo das terras de Vera Cruz, após cruzar o Atlântico, o brasileiro apodado de “sargentão” trazia a lição bem estudada. Sabedor da todas as anedotas jocosas que por lá debitam sobre os habitantes da “santa terrinha”, S(o)colari resolveu vincar a sua personalidade, alimentando a fraticida guerrilha entre Norte e Sul, para gáudio da subserviente imprensa nacional.

Rapidamente elevado aos píncaros da glória, endeusado em quase todos os meios de comunicação social, o ego, já de si enorme, cresceu exponencialmente, revelando um carácter ditatorial, avesso a críticas e opiniões diferentes.

Tudo foi suportado por um Povo sem amor-próprio, que via esse paladino estrangeiro a comandar a batalha contra o maléfico senhor do Norte. Com os resultados a ajudarem, a adulação atingiu o ponto de não retorno, pese a regularidade com que alguns foram confrontados com uma personalidade mesquinha.

Foi pois com resignação, já sem a capacidade de alimentar polémicas, que assistimos a novos episódios rocambolescos. A agressão a um adversário deveria ter servido de prenúncio para o que restava do contrato. Mas não. Alguns ainda não se aperceberam que as mordaças, cirurgicamente preparadas durante meses a fio, estão bem presas. Por isso, qual o espanto com a reacção do pretenso comandante supremo das forças armadas lusas, quando confrontado com a inócua pergunta de “foi a sua vitória mais sofrida?”.

Eu não sei se terá sido. Mas como espectador, pese a relutância que ainda sinto em sofrer por um punhado de “prima-donas”, cheias de tiques de vedetismo, assisti com alguma apreensão ao desenrolar do confronto com os finlandeses. Todos aqueles que veneram o desporto-rei estarão vacinados contra resultados penalizadores, apesar do domínio do jogo. O 0-0, esse resultado que eleva as penalizações cardíacas para níveis perigosos, não se compadece com estatísticas. Um ressalto, um lance de bola parada, um momento de inspiração. Basta isso para vermos o sonho a esfumar-se por entre os dedos, como se o destino brincasse com os sentimentos.

A explosão de cólera, reveladora do temperamento biliar do brasileiro, foi apenas mais um triste episódio no reinado de Sua Alteza. A classe jornalística, cujo espírito corporativo se manifesta apenas em ocasiões mais inofensivas, não tardou a sair a terreiro para branquear o mau génio.

Vítor Serpa, numa pomposa carta aberta ao seleccionador, abriu as hostilidades. A ele logo se juntou o delfim Delgado, sempre pronto a manifestar a sua concordância com todos aqueles que, alguma vez na sua existência, se oponham ao potentado da Invicta. Acusações de falta de patriotismo ou de anti-nacionalistas foram rapidamente carimbadas, com a chancela oficial do “Pravda” tuga.

Prezo-me por pensar. De não procurar o politicamente correcto. Nacionalismos bacocos ou bandeirinhas a esvoaçarem em varandas nunca fizeram o meu género. Apraz-me ver que, apesar dos elevados índices de analfabetismo, o Povo começa treinar o pensamento livre. Assim, não é de estranhar a monumental assobiadela com que os garbosos atletas nacionais foram mimoseados em Leiria, na exibição fora de validade com que brindaram a frágil Arménia. Não estranha também a ausência de euforia nos festejos da qualificação. Os números não enganam. 5 empates e uma derrota frente aos principais adversários beliscam a supremacia esperada duma Selecção que tem a sorte de possuir alguns dos mais brilhantes executantes que actuam no futebol europeu.

Só quem viu na “santa terrinha” o seu El Dorado, e nos indígenas que a habitam um rebanho de ovelhas é que pode achar insultuosa a pergunta de “foi a sua vitória mais sofrida?”. Só mesmo o Príncipe de orelhas de burro e o seu séquito de admiradores, ansiosos por umas festinhas do dono!

3 comentários:

Sérgio de Oliveira disse...

Paulo Pereira :


Por mais fiéis que atraia para a sua igreja , digo :

- Não me esqueço das provocações ao meu clube ;

-Não me esqueço que só não fomos CAMPEÕES da EUROPA por sua exclusiva teimosia e culpa .

-O BRASIL é a minha 2ª Pátria .
Admiro aquele fantástico país e tenho enorme estima pelo POVO brasileiro.

Anónimo disse...

Desculpem a intromissão no futebol, mas quero alertar todo o nortenho para o ataque que a ANA se prepara para fazer contra o Porto.
Eles estão a colocar entraves à Ryanair.
O aeroporto do Porto arrisca perder a oportunidade de conseguir atrair, nos próximos sete anos, quatro milhões de passageiros da Ryanair. Tudo porque a ANA (empresa lisboeta que faz a gestão dos aeroportos) não se tem mostrado receptiva a fazer algumas cedências que permitam a criação de uma base daquela companhia aérea de baixo custo no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. A possibilidade de o Norte estar a "desperdiçar" uma oportunidade de desenvolvimento está a indignar políticos e empresários. O PSD/Porto vai pedir esclarecimentos ao Ministério das Obras Públicas "por suspeita de favorecimento do aeroporto de Lisboa". Não se calem; não deixem passar mais este ataque lisboeta contra o Porto.

Bruno Pinto disse...

Paulo, não gosto do Scolari enquanto pessoa e treinador, mas os resultados que ele alcançou pela Selecção Nacional foram do melhor que o país alguma vez viu e portanto ele tem esse crédito. Apesar da medíocre fase de qualificação, acredito e torço por um brilherete luso no próximo Verão.

Não é pelos vários desrespeitos de Scolari pelo FC Porto que vou ser contra tudo o que ele faz. Ele está talhado para as fases finais porque, apesar de ser limitado a nível táctico, sabe unir um colectivo como poucos. Oxalá não invente muito na convocatória e depois nos onze iniciais...

Apesar de tudo, após o Euro, independentemente do resultado conseguido, pode ir à vidinha dele...

Abraço.