2 de agosto de 2007

Novela de Verão


Para animar estes dias que ainda restam da pré-temporada - ou será já temporada, sem o pré antes? - faltava a costumeira e pouco imaginativa novela sul-americana. Tem havido de tudo, nestes anos. Brasileiros que se atrasam, pelos motivos mais díspares, mas quase sempre coincidentes: problemas pessoais, falecimento de um tio afastado, saúde periclitante da mãe, servem sempre de escusas para mais uns dias passados em terras de Vera-Cruz.

Chegados de novo a território luso, perante uma bateria de fotógrafos e jornalistas ávidos de declarações, são proferidos os costumeiros lugares-comuns, que terminam sempre com uma declaração de amor incondicional ao clube do qual envergam as camisolas. Ano após ano, até isto se tornar fastidioso...

Este Verão, atípico quer nas temperaturas quer numa silly season pouco dada a devaneios, ainda não nos trouxera a costumeira birra de alguma vedeta. Até agora...

Confesso que, logo desde o primeiro dia, me tornei um adepto fervoroso de Lucho Gonzalez. Gostei do estilo, simplesmente. Da postura. Do porte altivo. De vê-lo movimentar-se em campo, sempre com uma "souplesse" digna de encómios. E depois, jogava que se fartava. E marcava golos. Por isso, apesar das exibições esforçadas, mas pouco conseguidas, a época transacta nada alterou no meu relacionamento com o argentino. Desculpei as más exibições, compreendi o arrastar em campo, elogiei o espírito de sacrifício demonstrado, com alguns treinos entre as inúmeras viagens de cá para lá, de lá para acolá e vice-versa...

Por isso, e só por isso, não esperava isto. Dirão alguns que é normal um jogador, quando cobiçado por clubes de outra dimensão financeira, sentir vacilar a sua lealdade. Com esforço, até isso consigo aceitar. Às vezes tenho ainda uma visão algo romântica do futebol, como se o meu amor clubista pudesse ser palpável, sentido por aqueles por quem eu nutro uma admiração profunda. Não é, está visto!

Apesar das palmas, dos cânticos entoados por milhares de gargantas, daquele grito de guerra arrepiante, do "El Comandante" a ecoar pelo Estádio, do apoio sempre dado pela equipa técnica, da braçadeira de capitão, aquela tira de pano com uma enorme carga simbólica e mítica. Apesar de tudo. Gratidão não tem, pelos vistos, tradução em argentino. Ou isso, ou continuo a ser um lírico de primeira...

5 comentários:

Anónimo disse...

Paulo, parece-me algo injusto para o Lucho esta tua apreciação. O clube, ao que parece, autorizou a sua estada na Argentina. E depois, quando o empresário quer mais uma comissãozita, o jogador pouco mais pode fazer. Ele tem sido um profissional irrepreensível.

Um abraço,

Paulo Pereira disse...

Achas, Koko? Um profissional irrepreensível treina, joga e merece o ordenado que lhe é pago. Lucho tem feito isso no Porto? Tem, o que lhe valeu até a braçadeira de capitão. Pode lá haver mais honra para alguém, ao fim de dois anos, ser presenteado com essa dádiva? E qual o agradecimento? Este arrastar de uma situação comodamente atribuida ao empresário ou ao clube...
Que eu saiba, não me parece existir consenso nisso, nem vi ou li um comunicado oficial do clube onde constasse essa pretensa autorização. O namorisco do argentino com o Valência foi demais descarado e despodurado para ser facilmente esquecido. Espero que:
1º - o Porto não ceda a birras e não o venda;
2º - k o argentino se aperceba bem da realidade onde está inserido - aconselho-o até a ler um texto do MST sobre o k é o Porto - e encare esta realidade como o melhor k lhe podia ter acontecido na vidinha.
3º - definitivamente, mostre o seu valor lá dentro, jogando aquilo k se sabe e retribuindo todo o apoio k nunca lhe foi regateado.

Tenho dito!

Bruno Pinto disse...

Concordo inteiramente, Paulo. Uma coisa era surgir agora o Real Madrid com uma pipa de massa para ele e aí eu entendia perfeitamente (se jogássemos no FC Porto e viesse o Real ou o Barça com muito dinheiro e um campeonato mais aliciante, conseguiríamos resistir?). Outra coisa é a vontade demonstrada em ir para o Valência durante vários dias, dizendo que até ía a nado se fosse preciso! É dizer uma coisa para os média portugueses e outra para os espanhóis. Isto é que não gosto, isto é que condeno. Como aliás condenei o comportamento do Pepe. Não está em causa a ambição de progredir na carreira e na parte financeira. Está em causa a sua postura. Os jogadores do FC Porto têm a obrigação de nos respeitar, a nós adeptos, que sempre os apoiamos! Se saírem, que o façam dignamente!

Anónimo disse...

Continuas a ser lírico....

Anónimo disse...

Paulo, hoje em dia juras de amor eterno nem nos casamentos:)
Compartilho dessa tua mágoa, pois o Lucho sempre foi, até ver, um profissional de enorme integridade - graças a isso, capitão até - e este namorisco a outros clubes provocam-me sempre uma azia brutal. Estão no Porto, num clube com fantásticas condições de trabalho, respeitado por esse Mundo fora, e ainda querem mais?
Se o problma é dinheiro, deveriam pensar nisso quando assinam os contratos. Enquanto está de azul e branco vestido, gostava de ver uma maior lisura comportamental e não estes comportamentos a que estavamos habituados de ver...pela TV, de Liedsons e Cª.

Um abraço,