5 de junho de 2007

Nortada


Porque hoje é terça-feira, único dia em que o Porto adquire "voz" no pasquim "ABola". Tarefa inglória, escrever num jornal assumidamente anti-portista. Vai daí, para não serem acusados disso mesmo, os ditos cujos resolveram munir-se do melhor. Não do melhor adepto. Ou do melhor portista. Um grande escritor, de sangue azul e branco, com personalidade. Cáustico, sempre que a ocasião assim o exige, veemente na defesa da sua "dama", pouco tolerante com a realidade nacional, é um daqueles casos de "Ame-se" ou "Odeie-se". Contraditório, por vezes, inflamado a maior parte do tempo, meus amigos, apresento-vos...MIGUEL SOUSA TAVARES!
Nortada
SAD do FCPorto vende «diamantes» e compra «cachuchos»
"E para onde vai agora o dinheiro da venda de Anderson? Vai para comprar mais uns Renterias e Mareques, com contratos por cinco anos e ordenados de 50 mil euros, e que para o ano estarão a ser emprestados..
No dia em que foi anunciada a venda de Anderson ao Manchester United, recebi pelo correio a carta anual convidando-me a renovar o meu lugar no Dragão, com a promessa de mais um ano de grandes espectáculos. Mas, sem Anderson em campo — e, provavelmente, sem Quaresma ou Pepe — o lugar passa a valer bem menos. Terça-feira passada, o FC Porto vendeu a maior fonte potencial de espectáculo e o mais promissor talento que passou por lá na última década. Vendeu-o, sem sequer ter chegado a tirar partido dele e do seu talento — 18 jogos na Liga e mais três na Liga dos Campeões.Toda a gente diz que Anderson foi muito bem vendido e que por 30 milhões não há como recusar. Permito-me discordar: 30 milhões de euros é, de facto, muito dinheiro. Em termos de tesouraria é um grande negócio; em termos económicos é um mau negócio. Para começar, e como já disse, o FC Porto vendeu-o sem ter chegado a tirar partido dele. Depois, tem 19 anos, acabados de fazer, e prepara-se para jogar a Copa América — as duas coisas juntas, a prazo, fariam subir muito mais a sua cotação. Não tenho qualquer dúvida de que, se as coisas se passarem normalmente, se em Inglaterra não houver Katsouranis nem Lucílios Baptistas, se o próprio Anderson continuar a ser o miúdo ajuizado e profissional que é, ele pode vir a revelar-se como um jogador verdadeiramente espantoso. Os 30 milhões parecem-me pouco para tantas esperanças nele depositadas. Mas o pior é que os 30 milhões, contas feitas, são bem menos. São praticamente zero. Vejamos:Dos 30 milhões, o FC Porto só tem direito a 80 por cento — 24 milhões. A estes, tem de subtrair a comissão de Jorge Mendes: 5 por cento no mínimo, 1,2 milhões. A este montante tem de subtrair ainda os 10 milhões que pagou por 80 por cento do seu passe, mais os cerca de 1,8 milhões que gastou a mantê-lo durante dois anos e à mãe, que foi contratada pelo clube, para contornar a proibição de poder comprar um jogador com menos de 18 anos: restam 11 milhões. Destes, é natural que gaste metade em reforços, para colmatar a sua baixa, acrescida, ao que parece, à de Ibson, num sector — o meio-campo — fragilizado, mesmo com eles. Restam 5,5 milhões, que representam uma fase na Liga dos Campeões — provavelmente aquela que o FC Porto deixará de alcançar pelo facto de já não contar com Anderson. A esta luz, entre abatimentos e lucros cessantes, Anderson foi vendido a custo zero. Nada a ver com o negócio de Nani, que não custou nada ao Sporting. É claro, porém, que os raciocínios económicos não são aplicáveis a um clube que apresentou 30 milhões de prejuízo no último exercício e que este ano vai a caminho dos 25 milhões. Era vender ou falir. Mas esse é o problema de fundo da gestão da SAD do FC Porto, que deveria ter sido discutido na campanha eleitoral e não o foi. Há anos que a SAD vive a vender os anéis de diamantes para comprar cachuchos. Vende uma pérola fina por 30 milhões e depois gasta-os a comprar uma dúzia de falsos brilhantes. Para quê? Ora, já não restam dúvidas a ninguém: para pagar comissões a muita e boa gente que parasita no clube. Para que queremos um Lino, para uma posição onde já existem seis jogadores sob contrato? Para quê ir recomprar um guarda-redes banal, como o Nuno, quando temos lá melhor, que vamos emprestar? Para quê o Renteria, o Mareque, o Sonkaya, o Pittbul, o Tarik, o Leo Lima, o Sokota (que, afinal, custou 3 milhões de euros, pagos a uma off-shore)? Para quê 70 jogadores sob contrato?Porquê não haver ninguém promovido dos juniores? Porque deixou de haver olheiros e só há comissionistas? Porque não há prospecção em África — porque é mais agradável ir ao Rio ou a Buenos Aires? Porquê o FC Porto, ao contrário até de grandes clubes europeus, nunca adquire jogadores por empréstimo, para testá-los, e os adquire sempre com contratos definitivos e a longo prazo, acabando a emprestá-los ao fim de um ano? Porquê até para ir buscar Jesualdo Ferreira ali ao lado é preciso recorrer aos serviços de um empresário sul-americano?, Já agora, admite-se que um dos administradores da SAD tenha um irmão que faz negócios com o clube? E admite-se que uma SAD que todos os anos regista prejuízos de exploração e tem acumulado um passivo assustador, aproveite o único ano em que conseguiu obter lucros — graças a Mourinho e à Liga dos Campeões — para distribuir prémios de gestão aos administradores? Há dias, Santos Neves tinha aqui um texto muito curioso, em que fazia contas aos milhões encaixados pela SAD do FC Porto com a venda de jogadores, desde que, há três anos, foram campeões europeus. Contabilizando todas as vendas, a dispersão integral da equipa campeã europeia, Santos Neves chegava à fantástica soma de 155 milhões de euros de vendas. E esqueceu-se, ainda, de acrescentar ao rol de jogadores que enumerava, os nomes de Diego, McCarthy, Hugo Almeida e Carlos Alberto (que grande jogador desperdiçado!). Com mais esses, o número chega perto dos 175 milhões de vendas conseguidas em três anos. Trinta e cinco milhões de contos! Para onde foi todo esse dinheiro se, no final de um ano normal, sem nenhuma compra relevante, a SAD consegue apresentar prejuízos de 30 milhões? Para onde foi? Eis o que eu gostaria de ver Pinto da Costa explicar.E para onde vai agora o dinheiro da venda de Anderson? Se nos dissessem que vai para reduzir o passivo, ainda o podíamos perceber — embora continuando sem perceber como se acumularam tantas dívidas. Mas já sabemos que não é para aí que o dinheiro vai. Vai para comprar mais uns Renterias e Mareques, com contratos por cinco anos e ordenados de 50 mil euros, e que para o ano estarão a ser emprestados, com o FC Porto a pagar os ordenados para que eles joguem pela concorrência. Esta é que é a penosa verdade e muitos começam já a percebê-la. Por isso é que, com 50.000 pessoas no Dragão para o jogo do título e as urnas de voto dentro do estádio, apenas 3700 sócios se deram ao trabalho de votar na recondução do actual estado de coisas. É certo que — e graças a Jorge Mendes — ainda se vão descobrindo, de quando em vez, uns Andersons, que fazem manter viva a chama da esperança. Mas os efeitos úteis das suas contratações são rapidamente desperdiçados pela necessidade de tapar os buracos abertos por uma política suicida e nova-rica de contratações, que todos os anos se repete desgraçadamente nesta altura."
E pronto, foi a crónica semanal. Parece que, bem vistas as coisas, não sou o único aziado cá do sítio:)
Mas que existem algumas ligeiras contradições, lá isso existem. Ó Miguel, o Jorge Mendes, para colocar aqui Andersons, "obriga" tambèm à aceitação de Leo Limas e Alans. Ah pois, que isto é do género de um clube de vídeo. Queres o filme com o Brad Pitt e a Angelina Jolie? Tens que comprar o pacote todo, que são 6 ou 7 filmes que não valem ponta de um corno. É essa também a política no futebol. Não sejas naif!

3 comentários:

Anónimo disse...

O Miguel exagera, muitas vezes. E essa, Paulo, não é a unica contradição. É certo que a ultima votação teve, diz ele, apenas 3700 votantes, mas sempre foram mais do k na penúltima. E nada disso é aferidor de distanciamento em relação a Pinto da Costa. Continuo a acreditar no nosso eterno presidente!

Anónimo disse...

Pois... continuem a acreditar no eterno presidente... não deixem é de pensar naquilo que o MST diz... por mais que eu não goste dele, o homem não é parvo nenhum e certamente escreve com muito mais certeza daquilo que está a dizer do que nós, quando vimos para cá mandar bitaites...
É no mínimo estranho que depois de 165 milhoes em jogadores vendidos em 3/4 anos, o clube apresente sucessivamente saldos negativos! E muito negativos! Isto sem contabilizar as receitas extraordinárias das fantásticas participações na UEFA e Champions nos anos que foram vencedores! Para onde foi o dinheiro???? Deixem-se andar... continuem a acreditar...

Paulo Pereira disse...

Caro anónimo:
Apesar dos resultados negativos, a nível financeiro, são os resultados desportivos k movem um clube. Não daquele género de afirmar "que pro ano somos campeões" ou "vamos ter um dream team", etc, etc. O Porto venceu 80% dos campeonatos, nos últimos 5 anos. Juntou a essas conquistas uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões e uma Taça Intercontinental. Detêm a hegemonia no futebol português, mesmo se quisermos recuar uma ou duas décadas. Por isso, tal como diz o Tiago, eu também continuo a acreditar em Pinto da Costa. As críticas que tenho tecido à SAD não me tornam contraditório. Continuo a achar que o Porto pode ser melhor gerido...a nível financeiro. Porque, bem vistas as coisas, pro vosso lado, o passivo também aumenta exponencialmente e os títulos desportivos são uma miragem. Parafraseando o ministro, "é um deserto". Neste caso, acompanhado pelos cartazes da JSD, pois camelos, nesse deserto, é o que há mais:)