Escreveu Jorge Maia, no Jogo...
Portugal
"Há dias, alguém escreveu que os portugueses andavam mais felizes porque o FC Porto tinha empatado duas vezes permitindo a aproximação do Benfica ao primeiro lugar. Assim mesmo, os portugueses. Não era a sequer a maior parte dos portugueses, ou uma boa parte dos portugueses, ou seis milhões de portugueses. Eram os portugueses todos, como se os portistas fossem estrangeiros, os sportinguistas apátridas, os vimaranenses espanhóis e os leixonenses turcos.
"Há dias, alguém escreveu que os portugueses andavam mais felizes porque o FC Porto tinha empatado duas vezes permitindo a aproximação do Benfica ao primeiro lugar. Assim mesmo, os portugueses. Não era a sequer a maior parte dos portugueses, ou uma boa parte dos portugueses, ou seis milhões de portugueses. Eram os portugueses todos, como se os portistas fossem estrangeiros, os sportinguistas apátridas, os vimaranenses espanhóis e os leixonenses turcos.
Acontece, às vezes, a quem passa demasiado tempo parado no espaço e no tempo, tomar a parte que consegue ver pelo todo que fica além dos seus estreitos horizontes. Andavam, então, os tais portugueses contentes e, como sempre, contentavam-se com pouco. São muitos anos a encher a barriga de migalhas e o hábito faz o monge.
Em vez de oito pontos de atraso para o FC Porto, tinham quatro que na verdade era só um porque os portistas tinham de jogar na Luz e, pronto, era inevitável que perdessem. Ora, acontece que os resultados de futebol não se decidem por voto popular. São onze contra onze e os onze do FC Porto jogaram melhor e ganharam.
Haverá hoje quem tenha a tentação de dizer que os portugueses andam tristes e a verdade é que aos dez milhões de portugueses que somos não faltam motivos para isso. Mas quem imaginar que os portugueses estão todos tristes por causa do resultado do clássico de sábado será certamente alguém que não caminha nas mesmas ruas que eu caminho, nem toma café onde eu tomo, nem faz compras onde eu faço. Por cá há sorrisos e aqui também é Portugal."
1 comentário:
Sempre em grande forma, Jorge Maia é hoje, sem sombra de dúvidas, o melhor defensor do Porto na imprensa. Contundente e cáustico q.b., faz da ironia refinada a sua grande arma, utilizada amíude para destrinçar os estereotipos habituais do mundo da bola tuga. Este artigo achei-o sumarento, repleto de humor refinado, colocando o dedo na ferida e finalizando ao bom estilo de um matador, numa praça de touros: estocada mortífera!
Enviar um comentário