Pois, o tempo parece passar a voar. Foi a 13 de Dezembro de 1987. Faz hoje vinte anos. O Porto preparava-se para conquistar o planeta, meses depois de vencer a sua primeira Taça dos Campeões Europeus, no Prater, vencendo o arrogante opositor germânico.
Isto de reviver êxitos passados tem algo de contraproducente. A memória desfia as pequenas histórias, as lembranças assaltam-nos, quase como se o jogo tivesse sido ontem. Duas décadas passadas, mas o amor clubista continua idêntico, aceso, pletórico de força e crença, cada vez mais imbuído na mística única do clube...
16 anos na altura, ansiedade em alta, como se ainda precisasse de me beliscar por aquilo que nos estava a acontecer. Meses de orgulho, ostentando os galões de Campeões da Europa, contando pelo calendário os dias que faltavam para arrecadarmos algo inédito em Portugal: o título, oficioso, de CAMPEÃO do MUNDO. Noite mal dormida, povoada de sonhos e pesadelos, naquela fronteira ténue entre a glória e o fracasso. O despertar estranho, noite cerrada lá fora, o frio que enregelava os ossos, o ar fantasmagórico do meu pai, sentado no cadeirão, os olhos fixos lá longe, em Tóquio...
E as nossas cores, vestidas por verdadeiros guerreiros, lutando num manto de brancura, essa neve alva, obstáculo quase intransponível, tornando difícil o mais simples gesto. E eles lutaram, com a respiração a sair em bafos visíveis da boca, os corpos entorpecidos de frio, que se entranhava, que se sentia, palpável, como se possuindo vida própria...
Lembro-me dos gritos, quando Gomes marca o 1º, numa disputa de bola surrealista, sobre a linha de golo. A euforia esmagada pelos avisos do meu pai: "olha os vizinhos. Cala-te". E eu sem querer saber. Queria gritar bem alto o nome do clube.
Depois veio o empate. Os uruguaios, homens duros, secos de carnes, tenazes na luta pelo ceptro, adiando o sonho de milhões, como eu expectantes, frente a um televisor. O prolongamento, qual suplício para eles, desgastados, à beira da exaustão, mas ainda de pé, segurando na flâmula azul e branca, mantendo viva a esperança. E as lágrimas que brotaram facilmente, quando Madjer, o mágico, recebe um passe e com aquela destreza única, quase sobrenatural, faz a bola sobrevoar o adiantado guarda-redes adversário.
E esta, pedaço de couro por momentos dotada de consciência, sadicamente deslizando para a baliza deserta. Cada vez mais devagar. Lentamente. Rindo-se dos sobressaltos que provocava. Devagarinho. Devagarinho. Até que entrou. E eu gritei. Eramos CAMPEÕES do MUNDO!
ps: Vídeo gentilmente cedido pelo Bibó Porto
2 comentários:
Paulo acho q vou deixar de ler os teus textos:) A tua qualidade, a magia, a emoção e a classe com q escreves deixas qq um de lágrima no olho, e eu não sei se isto me faz bem ou mal... Fico feliz por seres do Porto. Por sofreres como eu. Abraço.
Fomos campeões do mundo e eu ajudei a empurrar aquela bola ...até ao golo !
Grande Paulo
Um abraço
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